20.12.07

Fractales - Apparat

Writing


"Some people are driven to become writers because they have in them stories which must be told. Some people become writers because they have general creative urges which go unsatisfied by home life or office work. I think those things would be nice. But mostly I just want to get paid to stay up late and sleep late."
Bart Stewart

13.12.07

My Moon My Man - Feist


My moon, my man's a changeable land
Such a loveable land to me
My care, my co-lead barber I know
There's nowhere to go but on

How honestly my beggar should be
The song's out of key again
My fools, my things
We're digging the things
If the candlelit page again

Take it slow
Take it easy on me
Shed some light
Shed some light on things
Take it slow
Take it easy on me
Shed some light
Shed some light on things

My moon and me
Not skirty swift bean
It's the dirtiest clean I know
My care, my co-lead barber I know
There's nowhere to go
There's nowhere to go

Take it slow
Take it easy on me
Shed some light
Shed some light on things
Take it slow
Take it easy on me
Shed some light
Shed some light on it please

My moon
The moon my man
My moon
The moon my man...

27.11.07

Fim da luta - Balla


Gosto de ver-te passar
Anseio por ver-te passar
Mas eu não vou, não vou...
Adoro ver-te gozar
Quero ver-te gozar
Mas eu não estou, não estou...

Eu provavelmente morro com o fim da luta
Mas se te faz feliz, eu páro
E recomeço com um ódio banal
Que não nos faça tanto mal
Que não nos torne mais amargos
E nos deixe sem dúvidas
Eu provavelmente morro com o fim da luta
Mas se te faz feliz
Hoje não vamos falar,
Recuso a ouvir-me falar
Mas eu não sou, não sou...
Forte p'ra te conquistar
E tu queres ver-me gozar
Mas eu não estou, não estou...

Eu provavelmente morro com o fim da luta
Mas se te faz feliz, eu páro
E recomeço com um ódio banal
Que não nos faça tanto mal
Que não nos torne mais amargos
E nos deixe sem dúvidas
Eu provavelmente morro com o fim da luta
Mas se te faz feliz

Eu provavelmente morro com o fim da luta
Mas se te faz feliz, eu páro
E recomeço com um ódio banal
Que não nos faça tanto mal
Que não nos torne mais amargos
E nos deixe sem dúvidas
Eu provavelmente morro com o fim da luta
Mas se te faz feliz
Eu provavelmente morro com o fim da luta
Eu provavelmente morro com o fim da luta
Mas se te faz feliz

22.11.07

POST Nº 100


Coincidência das coincidências, hoje decidi que este blog não ia ser mais assim. Assim, como quem tenta dizer as coisas, mas nunca se compromete muito, não aprofunda, não revela realmente aquilo que sente e que pensa. Estava a pensar nisto quando faço o login e adiro à secção de "criar mensagem" e reparo que tinha 99 posts publicados.

Coincidência ou não, vou com a minha decisão para a frente.

Não sei se é dos 30 anos, se é do mestrado, se é de conhecer e conviver com pessoas novas, se é de navegar mais na net, não sei o que é, se calhar é tudo junto, mas sinto um certo "despertar da mente", não no mesmo sentido do filme, mas no sentido de acordar para a estupidificação em que me deixei cair nestes últimos 4 anos. Sim, é isso mesmo: 4 anos. Uma eternidade que eu nem percebi a passar-me. E agora, com 30 anos olho para tudo o que me lamentei não fazer, e que acabei por não fazer mesmo. Por tudo o que não vi, não assisti, não li, não ri, não ouvi, não dancei, não comi, nao falei, não amei, não beijei, não vivi. Acordo de repente com a ansia de agarrar tudo de repente, de agarrar em 4 meses os 4 anos. Quero. Quero muito, mas não sei se ainda tenho forças.

Ouvia na sexta-feira passada, na rádio, uma conversa sobre pegar numa mochila e ir correr mundo, sem nada certo. Falava-se, às tantas, que há uma idade para isso, e que a predisposição de alguém com 40 anos já não é a mesma de alguém com 20. Não podia estar maisde acordo. Eu que estou no meio, tanto vacilo para um lado como para o outro.

Não sei se é coincidêcia ou não, mas ouvi isso na rádio ainda no outro dia e hoje fui parar a dois blogs muito interessantes, de duas pessoas que conheci num jantar. E confesso que foram um "WAKE-UP" para mim, exactamente assim, com letras garrafais, aos gritos.

Ninguém imagina, mas eu conto. Nunca descobri o que é que eu consigo fazer bem. Qual o meu talento, aquele que mais ninguém tem. Nunca descobri. Vivo com esta angústia há anos e cada vez me perturba mais, porque cada vez conheço mais pessoas talentosas e cada vez a minha não resposta se faz ouvir. Estou num processo muito complicado. Num processo em que acho que não sou capaz, não sou digna, não sou merecedora, em que me zango comigo, grito por não ter feito, grito por ter feito e fazer mal. E confesso que estes anos de violência doméstica sozinha deixam marcas. Não, não estou deprimida.
Estou aborrecida comigo. Chateada por não ter consegido fazer melhor com o tempo e as oportunidades que tive. Revoltada por me ter perdido algures. Pela força, que já tive e deixei fugir.

Isto é comigo e só comigo, ouviste?! Quando é que páras de ter pena de ti e fazes alguma coisa? Estou farta de ti assim! Sabes que tens essa força, só tens de a encontrar outravez. Não são as lamúrias que vão mudar isto. O momento tem de ser agora. Porque eu já não aguento mais nem eu me aguento mais tempo assim.
Não sei como vais fazer para lá chegar, mas tenta tudo. Sozinha ou acompanhada, em casa, na rua, mesmo aqui ao lado ou do outro lado do mundo. Mas tenta. Tenta tudo até esgotares todas as possibilidades. Amassa pão, cuida de crianças, vai para África fazer voluntariado, serve cafés em Itália, limpa as ruas em Paris, pinta quadros com as mãos, com os pés, faz croché, tricot, bolos e rebuçados de cores. Caça tesouros, mergulha, como sempre quiseste, atira-te de pára-quedas, ainda este ano, como sempre sonhaste. Faz o curso de design, o de rádio, cose a tua t-shirt com botões, canta num bar e faz um strip-tease.
Solta essas mãos e esse coração. Faz isso por ti e por mim, por favor, porque eu não aguento mais ver-me assim.

21.11.07

Two More Years - Bloc Party


In two more years, my sweetheart, we will see another view

Such longing for the past for such completion
What was once golden has now turned a shade of grey
I've become crueler in your presence

They say: "be brave, there's a right way and a wrong way"
This pain won't last for ever, this pain won't last for ever

Two more years, there's only two more years
Two more years, there's only two more years
Two more years so hold on
X2

You've cried enough this lifetime, my beloved polar bear
Tears to fill a sea to drown a beacon
To start anew all over, remove those scars from your arms
To start anew all over more enlightened

I know, my love, this is not the only story you can tell
This pain won't last for ever, this pain won't last for ever

Two more years...

You don't need to find answers for questions never asked of you
You don't need to find answers
x2

Dead weights, balloons
Drag me to you
Dead weights, balloons
To sleep in your arms

I've become crueler since I met you
I've become rougher, this world is killing me

And we cover our lies with handshakes and smiles
And we try to remember our alibis
We tell lies to our parents, we hide in their rooms
We bury our secrets in the garden
Of course we could never make this love last
I said of course we could never make this love last
The only love we know is love for ourselves
We bury our secrets in the garden.

30.10.07

Mau perder


Aos 19 anos perdeu a virgindade.

Aos 29 perdeu as expectativas.

26.10.07

The Nicest Thing - Kate Nash





All I know is that you're so nice,
You're the nicest thing I've seen.
I wish that we could give it a go,
See if we could be something.

I wish I was your favourite girl,
I wish you thought I was the reason you are in the world.
I wish I was your favourite smile,
I wish the way that I dressed was your favourite kind of style.

I wish you couldn't figure me out,
But you always wanna know what I was about.
I wish you'd hold my hand when I was upset,
I wish you'd never forget the look on my face when we first met.

I wish you had a favourite beauty spot that you loved secretly,
'Cos it was on a hidden bit that nobody else could see.
Basically, I wish that you loved me,
I wish that you needed me,
I wish that you knew when I said two sugars, actually I meant three.

I wish that without me your heart would break,
I wish that without me you'd be spending the rest of your nights awake.
I wish that without me you couldn't eat,
I wish I was the last thing on your mind before you went to sleep.

All I know is that you're the nicest thing I've ever seen;
I wish that we could see if we could be something...


I WISH TOO


24.10.07

Um dia...


UM DIA rapo o cabelo

UM DIA escondo-me à chuva
UM DIA ponho os traços no T
UM DIA adopto uma criança
UM DIA choro lágrimas doces
UM DIA corro sem sentido
UM DIA pego em ti ao colo
UM DIA escrevo a verdade
UM DIA gosto de mim tanto quanto gosto de ti.
UM DIA.

Inspirado em Zofia

17.10.07


Quando ela mais precisava que ele lhe desse a mão, ele não.
Ficou para trás
à espera de uma qualquer outra mão livre para dar.

30 (14/10/1977)

Lembra-se de ir brincar para o jardim do Campo Grande e de andar numa bicicleta com duas rodinhas suplementares atrás para equilibrar. Lembra-se de dar comida aos patos e de ter sido bicada nas costas por um cisne gigante. Mas não se lembra de ter chorado ou gritado. Lembra-se de andar de cadeira de baloiço e cair. Mas não se lembra da dor. Lembra-se do dia em que lhe deram o cão e de lhe atirar estrelitas para o fazer escorregar no encerado chão da cozinha. Lembra-se do Professor Barbosa do sétimo ano, mas não se lembra do elogio que ele fez à composição que escreveu sem começar com "era uma vez". Lembra-se de ter ido à enfermaria do colégio levar uma vacina e ter desmaiado. Lembra-se do queque que lhe deram a seguir, de ir zonza para a aula de matemática e de não se lembrar o que era um triângulo escaleno. Lembra-se da professora com a sua enorme verruga, mandar as suas colegas limpar o chão molhado da chuva, mas não se lembra do que era chuva.
Lembra-se de ajudar a mãe a fazer filhoses no Natal e de procurar as prendas escondidas em casa, desembrulhar, brincar com elas, e voltar a embrulhá-las. Não se lembra das viagens de carro para o Algarve. Mas lembra-se de saltar do pontão na ilha da Fuzeta e nadar ao lado das raias, de apanhar camarões com a mão e perder as raquetes do sobrinho da vizinha. Não se lembra do raspanete. Lembra-se da saia rodada colorida da mini-up que a mãe lhe comprou na loja O balão, no Rossio, e de se orgulhar dela na colónia de férias em Almocageme.
Lembra-se do rapaz que lhe quis dar o primeiro beijo, mas não se lembra do primeiro beijo. Lembra-se do primeiro namorado e dos telefonemas às 5 da tarde que estranhava. Não se lembra quando foi o último. Lembra-se de ter saudades da avô, mesmo sem se lembrar da cara dela, só do cheiro. Lembra-se de levar o cão ao veterinário e de não o voltar a ver. Lembra-se do magusto na Ericeira, em que o avô caiu. Não se lembra como chamou a ambulância e como o levou para o Hospital. Lembra-se de ser responsável, mas não dos disparates. Lembra-se de todos os sonhos de adolescente. Não se lembra de os ter concretizado todos. Lembra-se de ser criança,
de ser adolescente e de ser adulta. Mas não se lembra de ser alguém e ter 30 anos.

9.10.07

Desmentido oficial


No meio não está a virtude.
Está a vergonha.

8.10.07

Kabum


Não parava de mexer aquele corpo antropomórfico. Inquietante energia escavada da ingestão de anabolizantes e estimulantes. Um ritmado suor caia-lhe da testa, dos braços, dos membros e escorria-lhe facilmente pelas curvas escorreitas. Ao bater das vibrações, as colunas agitavam o seu woofer que libertava graves quentes e contagiantes. As artérias e veias pulavam de sangue, e batiam aceleradas pulsações de ritmos cardíacos. Rosto ao rubro, tensão máxima, testosterona inchada
na sua mais primitiva forma mascaravam cem quilos de massa física no limite.
Quatro paredes fechadas num tecto e num chão de pedra preta fria, aqueciam ao vapor dos bamboleantes.
Ninguém se via, não via ninguém, até que o tombo duro e ruidoso do seu pesado corpo no chão estremeceu as estruturas, obrigando a suspensão do festim electro-erótico, por motivos de segurança arquitectónica.

Reflexo

Um pé seguido do outro, parecem andar muito depressa. Vê o reflexo dos pés no vidro e estranha a sua vagareza.
Um pé a seguir ao outro, parecem andar muito depressa. Vê o reflexo dos pés no vidro e encontra dois cepos de elefante.
Um pé depois do outro, parecem andar muito depressa. Vê o reflexo dos pés no vidro e descobre o amputado que não anda.

26.9.07

Antes de saires


José

Não me peças para esperar, nem para ter paciência. Mais.
Vou-me embora porque sabes bem que isto um dia tinha de acabar.

Rita
Mas tem de ser agora?
Eu agora ia fazer um chá!

José
Tem de ser agora, sim.

Rita
Se tem de ser assim, então vou guardar a outra chávena.
Demoras muito?

José
Não estás a ouvir o que te digo? Eu vou e já não volto!

Rita
Eu estou a ouvir estou, mas não acredito.

José
Então, quando eu bater a porta, pode ser que acredites finalmente.

Rita
Zéeeee... antes de saíres...

José
É a ultima coisa que me dizes Rita!

Rita
... antes de saíres, diz-me só onde escondeste o presente dos nossos 50 anos de casados que tens para mim?

25.9.07

Vida morna


Ainda
pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas oportunidades que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no Outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra cobardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Para os erros há perdão; para os fracassos, oportunidades; para os amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixes que a saudade te sufoque, que a rotina te acomode, que o medo te impeça de tentar. Desconfia do destino e acredita em ti. Gasta mais horas a realizar do que a sonhar, a fazer do que a planear, a viver do que a esperar, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

Fernando Pessoa

19.9.07

Anxious


Por vezes esperas.

Por vezes demais.
Tentativa falhada,
s
e a vontade se sente e se trai.
Porque não é crucificada?

Um dia talvez consiga pôr o silêncio a falar.


Por vezes esperas.
Por vezes demais.
Aposta perdida,
se a sorte se tem
e se vai.
Porque não é amarrada?

Um dia talvez consiga pôr o vento a voar.

Por vezes esperas.
Tentativa falhada, aposta perdida,
Por vezes são demais.

Mas um dia consigo pôr o mar dentro de um copo
só para te dar a água salgada a provar.



29.8.07

Cansada


O cansaço fraqueja-lhe os olhos, satura-lhe as pernas, corroi-lhe a alegria. Rouba luz aos olhos, leveza à pele e vontade ao ser. O cansaço tomou conta dela, abruptamente, dois dias antes das férias. Não chegou a fazer a viagem que tinha planeado. Viajou de ambulância para o hospital mais próximo e os dias passou-os na cama.

Cansada de lutar, da batalha, da espera. Cansada de ser fillha, de ser mãe, de ser amiga, de ser namorada, de ser amante, de ser mulher, de ser vulnerável, instável, de ser senhora, de ser dona. Cansada de ser empregada, de ser patroa, de ser licenciada, de ser qualificada, de ser escrava. Cansada de ser invejada, de ser desrespeitada, de ser frustrada. E cansada de ouvir e ficar calada.

Cansada de tomar decisões, cansada de tomar decisões sozinha, cansada de estar sozinha naquela cama branca naquele quarto, deu um suspiro e rendeu-se ao cansaço.

2.8.07

Inconstância e Incerteza


Um dia, Inconstância encontrou-se na rua por acaso com Incerteza, e tiveram uma longa conversa.
A Inconstância tinha certezas, mas mudava de postura a cada 10 minutos. Ora agora estava segura, ora já não estava segura de nada. Da tranquilidade à ansiedade como as montanhas russas. Mas certezas, Inconstância tinha. Por outro lado, a Incerteza era muito segura de si e das suas palavras. E acima de tudo, era muito segura no que tocava às suas incertezas. Essas eram sempre as mesmas, independentemente da conjuntura, do ano ou da estação. Não tinha a certeza de nada, excepto que tinha acerteza das suas incertezas. Após algum tempo de efusiva troca de sufixos, adjectivos e verbos, acordaram em fazer uma operação. Miss Inconstância e Madame Incerteza seriam submetidas a uma plástica do género trasformativo. E assim, Miss Inconstância passou a assinar o seu Bilhete de Identidade com o nome Constância e Madame Incerteza passou a ser apenas Certeza.

30.7.07

Baralho


Era uma pessoa complicada que gostava de coisas simples. Gostava de leite frio. Café sem açúcar. Maçãs, Laranjas e Bananas. Só. Iogurtes naturais. Meses com 30 dias. Nem um a mais. Dias regidos por horas, regidas por minutos fluidos. Gostava de textos escritos a arial corpo 12. De gelados de nata sem mais nada. De telefonar e não ouvir ninguém do lado de lá. Escrever a preto, desenhar a lápis. Palavras pequenas e simples. Traços direitos e conclusivos.
Não rasgava o papel que deitava fora. Dobrava-o em quatro e punha-o no lixo.
Apanhava folhas e guardava-as. Das árvores e dos cafés. Secava-as e lia-lhes os veios, as linhas da idade. Guardava-as e sentia-as. Dobrava-as em quatro e punha-as no lixo. Parava no caminho para as recolher. Sempre o mesmo. Da casa à esplanada, onde se sentava. No lugar que lhe estava guardado. Gostava de pessoas simples, que falavam sem gritar, sem gesticular. Que falavam devagar e acompanhavam a língua com o olhar.
Torrada com manteiga. Copo de leite frio. Café sem açúcar. Aguardava. Obrigada.
Na cadeira, na esplanada, no jardim, na rua, perto de casa, arrumava a simplicidade a cada passo, em cada gesto. Entre um e outro, o seu mundo complicou-se. Baralhou o gesto e escreveu a lápis, desenhou a caneta preta, deitou o café no copo de leite frio, rasgou as folhas erradas do caderno e soltou as folhas que tinha a secar. Baralhou o gesto quando ouviu aquela mulher com as mãos a gritar, e os olhos a dizer muito mais do que falar.

27.7.07

Duvidas?


Era para ser longo, brusco e drástico. Foi curto, suave e indefinitivo.

Era para ser, mas não foi. Chegou ao centro e acanhou-se com as hipóteses das respostas. Ficou no âmago da questão a questão do ser, mas não foi ou será?
Pelo que não foi, mas era para ser, infinitas conjecturas se podem lançar.
Cuidado. O fosso está perto e é fundo. E uma vez caídas lá, nunca mais se conseguem apanhar.

25.7.07

Combinações


Azul eléctrico e vermelho sangue.
Verde ervilha e amarelo torrado.
Roxo espiritual e azul turquesa.
Castanho chocolate e laranja fruta.
Preto e branco.

24.7.07

Paralelipípedo Analítico



















Um paralelipípedo psicanalítico é como um círculo.

De um lado passamos para o outro,
pelo vértice,
e temos outro lado de análise.
Ao chegar a novo vértice,
um outro lado da questão.
Escurtinado esse lado,
deparamo-nos com novo vértice
e nova perspectiva.
No final deste lado,
o outro vértice espera por nós.
Deste lado passamos para outro,
pelo vértice,
e mais outro lado da análise.
Ao chegar a novo vértice,
um outro lado da questão.
Escurtinado esse lado,
deparamo-nos com novo vértice
e nova perspectiva.
No final deste lado,
o outro vértice espera por nós.


Um paralelipípedo psicanalítico é como um círculo.

Arrumador do tempo


Sem ninguém saber, pegava no tempo e arrumava-o. Servindo-se para isso de um programa de edição de tempo, composto de várias pistas com várias faixas. Organizava-as aleatória e desprendidamente, como bocados de tempo que eram e isso apenas. Como se o tempo valesse pelos minutos e segundos e não pela sua vivência. Dispensava faixas de tempo relativamente curtas para tarefas de caractér de higiene pessoal, e outro tanto para alimentação. À necessidade do sono era entregue uma faixa maior, mas nunca fixa, enquanto que o trabalho era a faixa mais extensa do reportório. Do que sobrava no espaço, ficava o tempo. Para os humanos.

10.7.07

Haikus III


Está à direita da janela,

mas ninguém dá por
ela.

Pela meada do fio
perdi as contas
à vida.

A lua perdeu a compostura
entre um beco
e uma viela escura.

Um cheque alugou
uma casa com chão
e cobertura.

Os meus pés
têm bicos de papagaio
nas pontas.

Palavras farpas









Os judaístas acreditam que as palavras são poderosas. Como os produtos químicos, elas mudam a química interna do corpo.

Eu acredito que são tão fortes como as acções. Verbalizar uma vontade ou uma maldade pode ter consequências tão concretas, como sendo as nossas próprias mãos a executar tal desejo. Todos os dias são trocadas um incontável número de palavras pelo mundo, que manifestam intenções, disposições, razões e emoções. Ou um conjunto confuso de tudo isto.
Há palavras que não significam nada, são apenas a espuma de encher os espaços vazios. Há outras que têm a força de uma catarata. Palavras que libertam sorrisos, descontrolam lágrimas, provocam murros, disparam fugitivos, escondem magoados, iludem enganados, abafam ostracizados, vangloriam exarcebados. Palavras que fazem e dizem e acontecem. Pequenas farpas que não se apagam como no papel, com a borracha ou um simples delete no Word. Palavras que marcam, que doem e que nos fartam! Palavras que nos torturam, angustiam e abandonam. Não queremos ser ouvintes, mas ser surdos. Falar outra língua, rezar para que o gongo toque e nos salve ou que uma sirene as abafe. Sons em forma de palavras que têm o poder de arrancar bocados, de provocar estilhaços, de nos deixar mudos e cansados.

4.7.07

HIV, UVA, UVB, BSE


Cuidado. Quando vir estas siglas, fuja.
De uma forma ou de outra, dizem que matam.

H


Havia um H

que cansado de ser mudo
um dia deu um grito
e deixou tudo
surdo.

28.6.07

Haikus II


Um anel procurava
um dedo para amar,
mas não para se casar.


O ponteiro dos minutos corre para apanhar as horas.
Quando lá chega,
já não são horas para o encontro.


No meu quintal
há um pé de salsa
que dança o tango.


Um mudo,
pegou nuns miúdos
e trocou-os por palavras.


Ia saltar de um precipício,
mas precipitou-se e caiu.

Cross over


Haikus


A minha pele foi
vendida
a preço de bronze.

Um louco
regava uma árvore
para lhe apagar o fogo.

O pó
lê os livros
do meu escritório.

Os vidros da janela
esconderam-se
numa seringa de penicilina.

Um dia
saltou-lhe a tecla
de tanto se conter.

26.6.07

Nosferatu



















Photo by Rui Romão

FIM


Pelo início começa esta história. É a história do FIM. Uma história que não vai ter fim porque o FIM é imortal. Está sempre garantido, seja no fim do dia, da semana, de um livro ou só de um capítulo. Não tem de se apressar, nem de correr, porque o último lugar é sempre dele.

Esta é a história que conta a história do FIM mas não vai acabar, porque o fim tem o fim de tudo, mas não se tem a ele próprio.

21.6.07

Cega


Estava atrás de ti
num beco
e mesmo assim
não te vi.
Estava atrás do teu
eco
e mesmo assim
não te ouvi.

Mesmo assim,
não vi
que estavas atrás
de mim.

Labirinto



Bolacha Maria


Bolacha Maria estava pronta para sair do pacote onde vivia com as suas outras irmãs. A mãe de Bolacha Maria era a genuína, embora já um pouco mole, da idade, continuava a ter voz firme e a alertar a filha para os perigos que ia encontrar lá fora. Meninos que a iam querer comer, simples ou numa versão mais atrevida, com doce. Velhinhas que a iam querer molhar no leite e desfazê-la, senhoras que a iam envolver em orgias culinárias, com manteiga, natas, leite condensado e café. Mas nada impedia bolacha Maria de sair, até porque a sua vez tinha chegado. Foi deslizando do pacote tombado sobre a mesa e ficou deitada sobre esta de olhos bem esbugalhados e migalhas atentas. Passaram-se várias horas e nada. Estava já o dia a anoitecer quando sente os primeiros movimentos junto da mesa. Quando olha vê dois grandes olhos verdes e uns bigodes a fazerem-lhe cócegas nas bochechas. Parecia o gato. Com um movimento certeiro, ele dá-lhe com a pata e Bolacha Maria voa até ao tabuleiro do lanche da menina Rita, aterrando em cima do prato de torradas. Em coche particular lá vai ela toda deliciada pela casa fora a ver os quadros, os móveis, os cortinados. Nunca tinha visto mais do que o supermercado e a cozinha da família. A menina Rita chega ao quarto, pousa o tabuleiro, pega em bolacha Maria e molha-a no chá. Uma semana depois a família reuniu-se para a missa de sétimo dia.

Setembro 2006

20.6.07

Sem prefixo


Estou desequilibrada, descompensada, desencontrada, descontente.

Queria cortar os prefixos para me sentir só verbo e adjectivo.

14.6.07

Papoila Margarida


Papoila Margarida sofria de um mal incurável desde que conhecera Arnaldo Romeu. Os primeiros sintomas surgiram no dia em que o viu pela primeira vez. Um prolongado formigueiro apoderou-se das pernas de Papoila Margarida. Quando deu por ela tinha um carreiro de pequenas trabalhadoras a subirem-lhe do pé, para os gémeos, seguindo o sentido ascendente até aos joelhos. Nesse momento, em que se aproximavam perigosamente das partes baixas, Papoila Margarida teve um momento de sanidade e sacudiu o formigueiro das suas pernas, voltando a impor o respeito e dignidade aos seus cândidos membros inferiores.

Novembro 2003

Perde a conta


Se te perderes um pouco todos os dias,

acabarás por te encontrar.
Um dia.
Depois de cometeres todos os erros,
acabarás por te aperceber.
Do erro.
Quando perceberes o que conta,
Acabarás por te dar.
Conta.

A P/B

30.5.07

Depois solta-te


Quando achares que consegues, sai do meu regaço e corta o cordão que te une. Quando puderes, sem tardia, vira as costas e afasta-te, com a segurança de que eu continuo a olhar por ti. Quando te permitires acredita que podes fazer muito mais e que és capaz de seguir os sonhos de menino. Não te prendas ao passado, mas não te esqueças dele. E vai em frente. Mesmo que eu já não esteja cá, avança. Eu vou olhar sempre por ti.

23.5.07

Mad about


É urgente repensar os valores. Nunca se viu tanta mobilização para ajudar a encontrar uma criança portuguesa. E perdoem-me se a memória me falha, mas realmente não tenho lembrança de uma aparato tão grande em volta de um desaparecimento de uma cidadã portuguesa como o que está em prossecução. Se as crianças são o futuro do Pais, não me parece que actualmente, os media e as autoridades policiais dêem assim muita importância ao futuro deste país, pois a preocupação está totalmente direccionada para uma estrangeira, turista, é certo, mas que não é filha da nação. E a questão que me paira há já vários dias é a seguinte: até que ponto a situação não empolou devido ao dinheiro envolvido. Agora todos querem ajudar a encontrar uma criança, ainda viva de preferência, quando diariamente milhares morrem por nem um copo de água potável terem para beber, nem uma mãe, nem um pai, nem nada. Com essas a movimentação de esforços existe, é certo, e de louvar, mas é uma verdade de tal modo instituída, que já ninguém se importa. Mas se a criança é loira e de olhos azuis, filha de um casal inglês da classe média alta, a situação toma contornos absolutamente gigantescos. Como se a situação fosse mais avassaladora que os milhares de cadáveres diários espalhados pelos países menos desenvolvidos. E eu pergunto, essas crianças não deveriam merecer mais a nossa atenção. Afinal, muitas delas, não só não têm uma mãe, como não têm um pai, e muito menos alguém que se preocupe se amanhã estão vivas ou não. É urgente repensar as prioridades.

17.5.07

Eu sei


Gosto do teu tom de pele e de voz, e gosto de como falas quando gracejas. Que mexas as mãos, claras e esguias, em movimentos simples. Gosto de um certo olhar e do interesse devagar. Que não me prendas mas me queiras agarrar, que vás mas não me deixes ficar. Para trás. De corpo, mas não no pensamento. Vou contigo porque sei que queres e não consegues. Dizer que não. Ao que te vai na alma e enche, enche, até te apertar as veias que te envolvem. O coração.
Eu sei...

Junho 2006

16.5.07

Perdemos o interesse


Num segundo, por uma palavra ou um gesto apenas.

Por algo que estávamos à espera e não aconteceu. Porque criamos expectativas e não há nada, nem ninguém, tão perfeito como as nossas expectativas. Perdemos o interesse entre o momento de abrir a porta do carro e o entrar, entre um comentário ou um esgar.
Numa esquina da rua, ou num telefonema, em que algo ficou por falar.
Onde terá ficado? Caído numa pedra da calçada, embrulhado na papelada, ou perdido pelo caminho à procura de uma qualquer estrada.
Procuramos na origem. Vamos à fonte, mas já lá não está. Tentamos os perdidos e achados, mas também ninguém o encontrou, ou então alguém ficou com o nosso interesse para si. Perdemos o interesse pelos amigos, pela família ou pelo amor. No fundo perdemos o interesse pelas pessoas.
Deixamos de nos importar com o que há para ver ou ouvir e ficamos apenas para ali, de lado, a olhar.
Perdemos o interesse nos horários, no trabalho, nas refeições e no cuidado. Deixamos de pentear o cabelo e ver o espelho. Na rua o olhar é desviado, porque vamos abandonados. Somos sem interesse para nós e para os outros.
Na busca do que perdemos, continuamos. Na busca é que nos perdemos.
Seguimos, tristes e mudos. Encontramos ou não encontramos? Pela busca vamos...

Margaridas


Queimava o céu com descuido, em longas largadas de pulmões sujos. Tossia e repetia.
O lápis trémulo na mão segurava-lhe as ideias entre a alma e o papel. Arrumava-as à medida que espalhava as nuvens cinzentas pelo céu.
Punho firme, um traço ao alto, outro traço ao baixo. Traço ao alto, traço ao baixo. Um rectângulo. Um prédio. Pilhas de lares. Círculos. Círculos grandes e pequenos, muitos. São as árvores a enfeitar, porque uma cidade precisava de adornos. Pegava nos guaches e sentia o prédio a ganhar vida e as folhas das árvores a abanar. Um pouco de vento e estava quase.
Segurou a folha para ver a contra luz. Faltava só um pouco de brilho e assinar.
Augusto, Julho de 2006.

Levantou-se da cadeira, apoiado na mesa e começou a andar para dentro de casa. Procurava o casaco, mas não se lembrava onde o deixara. Com as mãos, tacteava o sofá, o cadeirão, o cabide e encontra-o arrumado no seu lugar. Veste-o, confirma se tem a carteira no bolso, pega na sua bengala e sai. A corrente de ar, bate a porta com força. Dá a volta à chave e começa devagar a descer os degraus do prédio antigo onde mora. Todos estes passos eram exercícios de visualização. Talvez por treinar tanto, até já conseguia ver as baratas a subir as escadas e os canos, por fora das paredes.
Vai sozinho dar o seu passeio matinal. Tira os cigarros e acende um bafo, para o ajudar a caminhar pela calçada do velho bairro de Lisboa, onde é conhecido como Fortes.
Enquanto olhava para ver se ainda está tudo na mesma, a bengala avisa-o que não. Andavam novamente a esburacar a rua. O que seria desta vez?
Vai até ao café do grupo e pede um curto escaldado. No vagar de quem tem tempo, senta-se, acende outro e pergunta o que andam a fazer.
- São os tipos da câmara que andam pr’aí... parece que é por causa da água.
- é... também me disseram isso Sr. Fortes, mas aquilo não vai demorar. Não se preocupe, que não vai atrapalhar os seus passeios.
- Não é pelos meus passeios... era para saber se seria preciso pintar uma fonte no seu lugar.
Sai do café e continua a andar de cigarro na boca, a bafejar o ar. Pára na mercearia para comprar leite e pão. O que lhe valia era a modernidade ainda não ter chegado ao bairro, e tudo estar exactamente nos mesmos sítios de quando foi para lá morar. De pão, leite e bengala na mão já era mais complicado acender o cigarro. Mas insiste, insiste e está nesta insistência quando a Dona Deolinda, do cabeleireiro, passa nesse embaraço e lhe diz
- Deixe lá isso Sr. Fortes! Esse tabaco ainda o vai matar.
- Se me matar, eu pinto um caixão bonito para me enterrar.
Para o fim do passeio ficavam sempre as flores. Para irem mais frescas e à sua Rosário agradar, pensava. Levado pelos diferentes cheiros, não havia dúvida, era ali mesmo.
- Bom dia... queria...
- ... um ramo de margaridas brancas, como habitual, não é Sr. Fortes? Tem de ir pensando noutras flores, porque no Inverno estas não dão.
- Nessa altura eu pinto-as, respondeu.
Pagou, agradeceu e saiu.
Chega a casa pelo caminho inverso, pousa as compras na cozinha e arruma o leite no frigorífico. Fecha o saco do pão com um nó forte.
Coloca as margaridas na jarra preferida de Rosário e deixa-as junto das suas cinzas. Senta-se na varanda, pega no lápis trémulo e imagina a fonte que ficaria bem na rua do bairro. Primeiro os traços grossos do lápis, depois os pormenores e por fim as cores.
De seguida pinta margaridas. Muitos jarros de margaridas. Muitos. Muitos. Muitos.
A florista tinha razão e ele não podia deixar que a sua querida ficasse sem flores, um dia. Pintou margaridas até anoitecer.
Três dias depois, à hora habitual do seu passeio, é levado em braços para o Alto de S. João, num bonito caixão de madeira. Não tão bonito como aquele que ia pintar, se tivesse tido tempo.
No bairro nasceu uma fonte, e da varanda da casa onde Augusto se sentava, ainda hoje caiem margaridas até ao chão.

Julho 2006

11.5.07

A idade das coisas e as coisas da idade


Os mais velhos costumam dizer que já não têm idade para isto, ou para aquilo e que no tempo deles as coisas eram diferentes. A minha mãe costuma dizer que há uma idade para tudo e que eu deixei passar a idade de encontrar um bom companheiro e casar. Eu acho que a opinião da minha mãe é mais uma coisa da idade, dela. Acredito que há uma idade para cada coisa, mas não há uma idade limite para viver. Com a idade vamos percebendo que houve uma idade para fazer certas coisas que não nos imaginamos a fazer mais. É a partir do momento que tomamos essa consciência que começamos a ter as coisas da idade.

19.4.07


Há pessoas que somam.
Há pessoas que somem.


Há pessoas que fazem fila.
Há pessoas que ficam na fila.

12.4.07

Há pessoas que deixam rasto.
Há pessoas que deixam raiva.

Bouquet

10.4.07

Everybody is free to wear sunscreen, Mary Schmich (1977)


If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be it. The long term benefits of sunscreen have been proved by scientists whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience…
I will dispense this advice now. Enjoy the power and beauty of your youth; oh nevermind; you will not understand the power and beauty of your youth until they have faded. But trust me, in 20 years you’ll look back at photos of yourself and recall in a way you can’t grasp now how much possibility lay before you and how fabulous you really looked…
You’re not as fat as you imagine. Don’t worry about the future; or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubblegum. The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind; the kind that blindside you at 4pm on some idle Tuesday.
Do one thing everyday that scares you.
Sing.
Don’t be reckless with other people’s hearts, don’t put up with people who are reckless with yours.
Floss.
Don’t waste your time on jealousy; sometimes you’re ahead, sometimes you’re behind… the race is long, and in the end, it’s only with yourself. Remember the compliments you receive, forget the insults; if you succeed in doing this, tell me how. Keep your old love letters, throw away your old bank statements.
Stretch.
Don’t feel guilty if you don’t know what you want to do with your life…the most interesting people I know didn’t know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don’t.
Get plenty of calcium.
Be kind to your knees, you’ll miss them when they’re gone.
Maybe you’ll marry, maybe you won’t, maybe you’ll have children, maybe you won’t, maybe you’ll divorce at 40, maybe you’ll dance the funky chicken on your 75th wedding anniversary… what ever you do, don’t congratulate yourself too much or berate yourself either.
Your choices are half chance, so are everybody else’s. Enjoy your body, use it every way you can… don’t be afraid of it, or what other people think of it, it’s the greatest instrument you’ll ever own.
Dance…even if you have nowhere to do it but in your own living room. Read the directions, even if you don’t follow them.
Do NOT read beauty magazines, they will only make you feel ugly. Get to know your parents, you never know when they’ll be gone for good. Be nice to your siblings; they are the best link to your past and the people most likely to stick with you in the future. Understand that friends come and go, but for the precious few you should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography and lifestyle because the older you get, the more you need the people you knew when you were young.
Live in New York City once, but leave before it makes you hard; live in Northern California once, but leave before it makes you soft.
Travel.
Accept certain inalienable truths, prices will rise, politicians will philander, you too will get old, and when you do you’ll fantasize that when you were young prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders.
Respect your elders.
Don’t expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund, maybe you have a wealthy spouse; but you never know when either one might run out. Don’t mess too much with your hair, or by the time you're 40, it will look 85.
Be careful whose advice you buy, but, be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia, dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more than it’s worth.
But trust me on the sunscreen.


5.4.07

Peguei em ti


Fui ter contigo a tua casa. Fui todas as vezes que me pediste e foram muitas. Abria a porta principal para entrar na escuridão em que estavam sempre as paredes. Nenhuma janela aberta.
Nenhum cortinado afastado. Apenas o negro e o tabaco.

Pegava em ti e levava-te para o quarto. Queria fazer amor contigo. Queria tanto que nem sabia.
Antes mesmo de começar já tínhamos parado. Ela já te tinha dado todo o prazer que precisavas
e como habitual sugou-te todo. Chupou-te até ao fim, até aos restos, para que nem isso ficasse para mim. Peguei em ti e levei-te para a cama, sem ter ido. Escolheste a mais pura e branca companhia que podias ter.

Discutimos. Não. Discuti sozinha, porque já não querias saber. Desci as escadas embalada na promessa que nunca mais voltava.
Entrei em tua casa porque não me pediste. Fechei a porta à chave. Quatro voltas.
Afastei todos os cortinados e abri todas as janelas. Queria cobrir a casa de luz e ar.
Deixei que o fumo saísse e o pó acabasse. Fiquei a ver-te tremer de suor e a odiar-me.
Quando paraste, peguei em ti e levei-te para a vida.

Inspirado e dedicado à Sofia Rijo

O suficiente não chega


Entre o medíocre e o bom passa-se a vida. Ficamos a meio, porque é suficiente.
Mas será o suficiente para viver, ou é o ir vivendo?
O suficiente não nos faz ganhar uma bolsa de estudos, nem conquista cargos de administração. Não dá prémios nem distinção. O suficiente não tem consideração.
O suficiente não chega para nos fazer corar nem impressionar. O suficiente não é feio, mas não tem brilho nem poses de sedução. Não chega a ser amor para o resto da vida, mas é o suficiente para ter essa ilusão.
O suficiente mal nos paga a casa e não nos deixa viajar. Chega para ir, mas não para voltar. Não chega para sermos felizes, mas é o suficiente para nos matar.
É o vazio depois do prato vazio, que não é o suficiente para nos calar por dentro.
É o que não chega, mas é o suficiente, por não sabermos o quanto falta para mais.
É a manifestação em que uns lutam e outros acham que ver lutar é o suficiente para mudar. É criticar o país mas não ser corajoso o suficiente para o deixar.
É ser injustiçado, mas achar que não foi o suficiente para protestar. É ser mal servido e dizer deixa estar.
É não querer ser melhor cada dia, porque ser o suficiente já é bom.
Entre o suficiente e o medíocre passa-se a vida. Ficamos a medo.
Mas, quando é que já chega de suficiente?

(Junho 2006)

Ele está à espera


Há pessoas que ficam bonitas nas fotografias.
Há pessoas que ficam bonitas na vida.

14.3.07

Cor tradição Verde contradição


Será verde a cor do que sinto? Não me parece que já esteja maduro o fruto que trago comigo. Fico assim, entre este verde, cor de absinto e o bandeira que tenho no coração. Na dúvida, decido esperar para que o verde mostre todos os seus pantones de cor, de uma mistura entre CMYC ou RGB.
A esperança é a última a morrer e verde é também a cor para viver. Queria que fosse um verde escuro, cor de garrafa, daqueles fortes que nos dão tudo e não pedem nada.

No fim vem a conclusão: esperar que o verde fique maduro é um erro e uma contradição.

13.3.07

Eu depois devolvo


Preciso de tempo.

Primeiro para me lembrar de tudo.
Depois para esquecer
Preciso de tempo.
Para saber o espaço da tristeza
e o tamanho da desconfiança.
Preciso de tempo.
Para estar só,
e para depois poder estar com alguém
Mas sou tão má gestora do meu tempo,
que só peço vários intervalos.
Absorvo tudo ao mesmo tempo.
Preciso de mais,
talvez um prolongamento.
Prometo que depois compenso.
Devolvo o tempo.

12.3.07

Luz vaga - Mesa


Luz vaga, luz vesga, a tua cruz
Já não sai da cama, a minha luz

Da sala, do quarto

Pilha a palavra
Troca a quantidade, do assunto modal
A tensão está normal
O lábio fora da boca,
A boca fora do mal

Os teus olhos não são de gente
O teu ar foge para cima
Tens a perna no cimento,
Tens a mão no pensamento

Ciclope, cicloturismo
Na parte de fora, na nesga do abismo
Imaginário que remete, para onde ainda não fui

Convite ao Universo
Com a tua própria câmara
Fecho a luz num olho
Prego a tábua à sensação

Som da casa, quando não estás...

Dancei para te ver aqui,
eu sei que nada mais pode me ajudar
É do nono andar? Sim
Quis pedir ajuda, mas a língua estava morta
Sei lá! Parei de olhar,
tenho uma corda acesa, prestes a queimar
Não és capaz de me levar a sério.
Vou saltar em teu lugar.

Sei que nada mais pode me ajudar

Atrasa o passo
Leva o lenço à boca
Fica na mira do choque frontal
Não é doença, é um animal
Um ruído feito no acto de fingir
seres mau, mesmo a dormir.

2.3.07

Era uma vez


Era uma vez um texto que não queria ser só um texto. Ele queria ser lido e comentado. Ele queria ser famoso. Este texto queria ser complexo e cheio de conteúdo, daqueles que mexem contigo e com o mundo. Ele queria ser daqueles textos que se lê e sublinha, que quase se sabe de cor, daqueles textos que se partilha com os amigos, se envia a todos no trabalho e se imprime. Daqueles que guardamos nos favoritos. Ele queria ser brilhante. Este texto tinha pretensões em ficar na história, em deixar uma marca. Então começou a trabalhar para o ser. Acrescentou mais adjectivos, vocabulário rico, fez frases de oito orações e usou toda a força dos advérbios e substantivos. Mas um dia o texto parou e n
ão gostou do que estava escrito. Estava a transformar-se num texto pomposo e sem sentido. Então o olhou para trás e recomeçou. Tirou as jóias e brilhantes, os artifícios e as marcas. Afastou os holofotes e quando pensou que ia ficar vazio, percebeu que afinal tinha todo o conteúdo para ser o que é hoje. Um texto com princípio, meio e fim.

Monopólio















Mesmo que fugaz,

condenado à partida,
mesmo antes da primeira jogada.
Há sempre a possibilidade
de avançar.
Duas voltas,
até à casa de partida
e depois recomeçar
uma e outra vez.
Com sorte faço um par
com os dados
da própria vida
que atiro.
Avanço duas voltas,
sem pensar,
passo pela casa de partida
e nada.
Com sorte
vou para a saída,
ou então fico presa
enquanto atiram os dados
da minha vida.
E eu vejo-a passar.

Setembro 2003

Branco e bonito


Recordo o teu sorriso,
branco e bonito.
Sentado na sala
olhas para os meus contornos
na penunbra da luz tardia.
Pedes-me um beijo,
digo que vou dormir.
Levas-me ao colo
sem ter de te pedir.

A roupa aquece
os corpos
e vai caindo
e nós
nos braços um do outro
vamos-nos
unindo.

Nada há a perder
nada é para esquecer.

O abraço forte,
o sorriso que não vejo,
mas adivinho...
branco e bonito,
na penumbra
da noite
tardia.

Dizes que ficas,
só mais um pouco.
Deixamos o sono cair
sobre o cansaço
do prazer
que nos faz sentir.

Pedes-me um beijo,
digo que vou dormir.
Dás-me um abraço,
sem ter de te pedir.

Julho de 2003

21.2.07

Uma cidade



















Uma rapariga atrasada. Um casal de reformados. Uma mãe atravessa a estrada. Uma criança ao colo a chorar. Um homem sai do trabalho. Um autocarro passa. Uma rapariga tropeça. Um miúdo ri-se. Uma senhora acelera. Uma mota vira. Um casal troca abraços. Um pai pega no filho em braços. Um velho chora. Uma mulher olha para mim de lado na paragem de autocarro. Os semáforos continuam. A estrada não pára. Vendem a Cais e jornais. Mais uma paragem. Entra uma mulata com cara de farta. Uma rapariga atrasada para um encontro. Um miúdo a chorar. Uma bola perdida. Rola até ao fundo do mar. Um casal apaixonado. Um homem a beber. Um rapaz dá um piropo. Uma rapariga a corar. Um casal aos gritos. Uma mulher a divorciar-se. Uma rapaz ri com cara de apaixonado. Um velho à espera com um ar cansado. Tudo é repetido. Tudo é um fardo, no ritmo da cidade, longo e atrasado.

16.2.07

Um dia nós aprendemos, de Shakespeare


Depois de algum tempo tu aprendes a diferença,
A subtil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E tu aprendes que amar não significa apoiares-te,
E que companhia nem sempre significa segurança.
E começas a aprender que beijos não são contratos
E presentes não são promessas.
E começas a aceitar as tuas derrotas
Com a cabeça erguida e olhos adiante,
Com a graça de um adulto
E não com a tristeza de uma criança.
E aprendes a construir todas as tuas estradas no hoje,
Porque o terreno do amanhã
É incerto demais para os planos,
E o futuro tem o costume de cair no meio do vão.
Depois de um tempo tu aprendes
Que o sol queima se ficares exposto por muito tempo.
E aprendes que não importa o quanto tu te importes,
Algumas pessoas simplesmente não se importam...
E aceitas que não importa quão boa seja uma pessoa,
Ela vai ferir-te de vez em quando e tu precisas perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que se leva anos para se construir confiança
E apenas segundos para destruí-la,
E que tu podes fazer coisas num instante,
Das quais te arrependerás para o resto da vida.
Aprendes que as verdadeiras amizades
Continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que tu tens na vida,
Mas quem tu tens na vida.
E que bons amigos são a família
Que nos permitiram escolher.
Aprendes que não temos que mudar de amigos
Se compreendemos que os amigos mudam,
Percebes que o teu melhor amigo e tu
Podem fazer qualquer coisa, ou nada,
E terem bons momentos juntos.
Descobres que as pessoas
Com quem tu mais te importas na vida
São-te tomadas muito depressa,
Por isso sempre devemos deixar
As pessoas que amamos com palavras amorosas,
Pode ser a última vez que as vemos.
Aprendes que as circunstâncias e os ambientes
Têm influência sobre nós,
Mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começas a aprender que não te deves comparar com os outros,
Mas com o melhor que podes ser.
Descobres que levas muito tempo
Para te tornares na pessoa que queres ser,
E que o tempo é curto.
Aprendes que não importa aonde já chegaste,
Mas para onde estás a ir.
Mas se tu não sabes para onde estás a ir,
Qualquer lugar serve.
Aprendes que, ou tu controlas as tuas acções
Ou elas te controlarão,
E que ser flexível não significa
Ser fraco ou não ter personalidade,
Pois não importa quão delicada e frágil
Seja um situação,
Existem sempre dois lados.
Aprendes que heróis são pessoas
Que fizeram o que era necessário fazer,
Enfrentando as conseqüências.
Aprendes que a paciência requer muita prática.
Descobres que algumas vezes
A pessoa que tu esperas que te chute quando tu cais
É uma das poucas que te ajuda a levantar.
Aprendes que maturidade tem mais a ver
Com os tipos de experiência que tiveste
E o que tu aprendeste com elas
Do que com quantos aniversários já celebraste.
Aprendes que há mais dos teus pais em ti
Do que tu supunhas.
Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança
Que os sonhos são uma parvoíce,
Poucas coisas são tão humilhantes
E seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprendes que quando estás com raiva
Tens o direito de estar com raiva,
Mas isso não te dá o direito de seres cruel.
Descobres que só porque alguém não te ama
Da forma que tu queres que te ame,
Não significa que esse alguém
Não te ame com tudo o que pode,
Pois existem pessoas que nos amam,
Mas simplesmente não sabem
Como demonstrar ou viver isso.
Aprendes que nem sempre é suficiente
Ser perdoado por alguém,
Algumas vezes tu tens que aprender
A perdoar-te a ti mesmo.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas,
Tu serás em algum momento condenado.
Aprendes que não importa
Em quantos pedaços o teu coração foi partido,
O mundo não pára para que tu o consertes.
Aprendes que o tempo não é algo
Que possa voltar para trás,
Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma,
Ao invés de esperares que alguém te traga... flores.
E tu aprendes que realmente podes suportar...
Que realmente és forte,
E que podes ir muito mais longe
Mesmo depois de pensares que não podes mais.
E que realmente a vida tem valor
E que tu tens valor diante da vida!
As nossas dádivas são traidoras
E fazem-nos perder
O bem que poderíamos conquistar,
Se não fosse o medo de o tentar...

14.2.07

Morri



Morri

Passeio na calma, por isso sei que morri.
Não é tão mau como pensei.
Não me dói, mas não sei ainda.
Ainda não sei muito bem porque estou aqui.
Não sei se quero ficar já aqui.
Lembro-me das multicores de coisas boas.
Vou ou fico?
Lembro-me do amarelo confusão.
Repetido. Repetido.
Onde fico?
Volto para a confusão que se repete.
Onde fico?
Num ritmo repetido.
Onde fico?
......................
Onde é que eu fico?
Vou ou fico?
Viro!
O amarelo confusão sobe
enquanto eu desço o caminho da minha indecisão
e continuo sempre com a mesma pergunta no espírito:
Vou ou fico?
Toco nas coisas para ver se ainda as sinto.
Mas nada!
Sou um vazio cheio de tudo a tentar manter-se vivo.
Mas estou do lado errado do rio.
Vou ou fico?
Uma luz, branca, forte e cada vez mais perto
parece querer dizer-me o caminho.
E eu grito: VOU OU FICO?
Acho que vou.
Respiro!
Sossego
Adeus confusão, adeus caixão.
Agora sim.
Morri.
Fim.

9.2.07

O meu corpo de quem é?


















Nasço com ele e vivo com ele todos os dias, há quase 30 anos. Numa relação de estima e cuidado, e por vezes de raiva e desagrado. Vivo com ele 24 horas sobre 24 horas e é ele que me leva onde quero, embora, nem sempre tão depressa como eu quero. Mas ele tem as suas limitações e eu tenho de o respeitar por isso. Também se ressente, também sofre. Também tem sentimentos. O meu corpo fala com os outros e muito comigo. Por isso, às vezes nem sei o que lhe digo, mas sei que ele me está a ouvir no suspiro.
O meu corpo é só meu desde que o tenho comigo e com ele faço o que quero, quando quero e como quero. Tudo o que o meu corpo produz e gera é meu também e é a mim que compete tomar uma decisão, depois de falar com ele. Uma decisão a dois. Entre mim e o meu corpo.
O meu corpo é meu. Os pelos, os cabelos, os sinais, as borbulhas, as unhas, as marcas, as cicatrizes, as lágrimas, o sangue, o pus. Tudo, tudo meu. Quando morrer pode ser da ciência, pode ser para os outros, mas enquanto eu for viva o meu corpo será só meu e será dos dois a decisão do que acontece com ele. Ninguém o pode prender, ninguém o pode obrigar, ninguém o pode violar. Mas a verdade, é que mesmo que eu acredite que ninguém pode, a verdade é que o podem prender, o podem obrigar e o podem violar, mesmo que eu não concorde.
Outro ser, a quem o meu corpo não pertence, acha-se no direito de vir e dizer o que eu posso e não posso fazer com ele. Outro ser que tem o seu corpo, quer mandar no meu. Mas porquê? Afinal, o meu corpo de quem é?

6.2.07

Bengalas

As bengalas têm várias formas, cores e tamanhos. Estão normalmente disponíveis, no corredor de um Hospital, nas lojas de ortopedia, nas clínicas, centros de saúde e por vezes perdidas no meio da rua.
As bengalas têm como principal função ajudar aqueles que, por qualquer motivo, perderam a capacidade de locomoção na sua plenitude. Que precisam de ajuda para se endireitar, andar mais seguramente, ou de uma apoio para os primeiros passos após uma recuperação. É para isso que elas servem. As bengalas de madeira, de ferro e de plástico. É para isso também que servem as bengalas humanas. Pessoas disponíveis, como se num corredor de hospital estivessem encostadas, à espera que os coxos e enjeitados peguem nelas, e as usem para dar os primeiros passos, até conseguirem andar pelas suas próprias pernas. No corredor são deixadas as bengalas que já não são precisas. As de madeira, de ferro, de plástico e as humanas.

Dedicado à Sofia. Para que nunca mais deixes que façam de ti uma bengala humana.

2.2.07

Chuva


















Cruzei-me contigo e uma gota caiu seca no chão. Olhei para o céu e lá prendi as outras gotas todas, com fios e pontos, num lugar que só eu sei, para que não caiam mais no chão. Vou deixá-las lá ficar, para que o céu tenha sempre chuva e os meus olhos nunca mais tenham água para chorar.