5.4.07

O suficiente não chega


Entre o medíocre e o bom passa-se a vida. Ficamos a meio, porque é suficiente.
Mas será o suficiente para viver, ou é o ir vivendo?
O suficiente não nos faz ganhar uma bolsa de estudos, nem conquista cargos de administração. Não dá prémios nem distinção. O suficiente não tem consideração.
O suficiente não chega para nos fazer corar nem impressionar. O suficiente não é feio, mas não tem brilho nem poses de sedução. Não chega a ser amor para o resto da vida, mas é o suficiente para ter essa ilusão.
O suficiente mal nos paga a casa e não nos deixa viajar. Chega para ir, mas não para voltar. Não chega para sermos felizes, mas é o suficiente para nos matar.
É o vazio depois do prato vazio, que não é o suficiente para nos calar por dentro.
É o que não chega, mas é o suficiente, por não sabermos o quanto falta para mais.
É a manifestação em que uns lutam e outros acham que ver lutar é o suficiente para mudar. É criticar o país mas não ser corajoso o suficiente para o deixar.
É ser injustiçado, mas achar que não foi o suficiente para protestar. É ser mal servido e dizer deixa estar.
É não querer ser melhor cada dia, porque ser o suficiente já é bom.
Entre o suficiente e o medíocre passa-se a vida. Ficamos a medo.
Mas, quando é que já chega de suficiente?

(Junho 2006)

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