Pedir não custa, diz o ditado. Neste período os pedidos intensificam-se: pede-se ao Pai Natal, pedem-se objectos, pedem-se sonhos embrulhados.
Eu também gosto dessas coisas todas, mas também gosto muito de pedir felicidade, harmonia e saúde. E isto parece um cliché, assim escrito, mas não há outras palavras para dizer isto. E estes três pedidos são das coisas mais difíceis para o Pai Natal oferecer, mesmo com a ajuda de muitos duendes.
Mas pedir também custa. Custa-nos o orgulho. Eu não gosto nada de pedir ajuda, por exemplo, mas gosto de ajudar. E para mim ter de pedir ajuda é uma grande dificuldade. Por outro lado peço outras coisas grandes e pequenas, a toda a hora. Peço que aquela operação corra bem, peço que a minha amiga arranje emprego, peço a deus quando estou aflita, mesmo não acreditando nele, peço forças ao anjo-da-guarda, mesmo que ele não exista. Peço para que não esteja trânsito, peço um prato especial à minha mãe, peço para que a reunião não demore, peço para que o trabalho seja aprovado, peço um aumento, peço um café. Mas nunca tive de pedir uma esmola. E se para todos estes meus pedidos normalmente tenho uma resposta, se fosse uma mendiga, numa rua movimentada de Lisboa, numa hora de almoço, na véspera de Natal, de mão estendida a pedir uma esmola para comer, será que o meu pedido ia ser tão igualmente satisfeito? Mas, se eu fosse uma mendiga a pedir esmola, o que é que eu estava a pedir? Para além do dinheiro, que seria a prioridade, estava a pedir um pouco da vossa atenção, um pouco de afecto também. Um pouco de olhos nos olhos, um pouco que me vissem, e não só que me olhassem. Estava principalmente a pedir humanidade.
Acho que não é pedir muito? Pois não?
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