4.5.09
És um Lobo, Antunes!
Há muito tempo que não escrevo um texto destes. Para quê? ninguém lê. Não é por falta de ideias, não é por falta de tempo, não é por falta de intenção nem intento em escrever. Não me faltam as palavras, nem a forma de as dizer. Tenho assunto e tenho vontade, mas perdi algures o porquê?
E agora, ao ler-te, deste-me vontade de voltar a escrever António. Cada vez que te leio tenho de parar um bocado. Só aguento o cigarro na mão e as passas que ele me dá. Deixas-me assim com o que escreves, António. E trato-te por tu, porque entras na minha vida, em minha casa, até no meu quarto - esse lugar tão reservado. E porque me entras assim na vida, assumo o direito de te tratar por tu. Como se fôssemos velhos amigos de outros tempos, de outras épocas (porque nesta a geração roubou-nos o tempo) como se partilhássemos uma amizade cúmplice. Mas não te trato por tu por fallta de respeito. Conheço-te um pouco da alma, com o que me deixas escrito, o que queres... O que é que queres? Assumo que te dás assim, e eu entro num delírio acordada de que, eventualmente, um dia, te virei mesmo a conhecer e a privar contigo. Que me elogias os escritos, por caridade, para depois me ensinares todas as tuas técnicas. Para depois riscares as minhas folhas todas, de alto a baixo, como um professor tolerante, que se dá ao trabalho de pegar na caneta e corrigir e melhorar e se dedicar. Mas isto tudo não passa de um devaneio, de uma fuga, para evitar o simples facto de não andar a escrever. Tudo isto foi um esquema para que te compadeças de mim, e para que, quando me leres, não aches tão mau assim.
[escrito dia 25 de Abril, depois de ler uma crónica na Visão, uma semana antes de estar na Feira do Livro para falar com ele]
:)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
António Lobo Antunes é mesmo aquele escritor que te aptece dar um braço para conseguir escrever (com o braço que resta) como ele.
Enviar um comentário