Teimava em comprar t-shirts de tamanho demasiado pequeno e em pintar o cabelo, mesmo sem ter brancos. Insistia em manias que já se tinham tornado ridículas só pela insistência de continuarem a existir e não por ainda serem realmente maneiras. As novas perdiam credibilidade. E depois tinha certezas, muitas vezes absolutas, que confirmava no segredo do seu lar, às escondidas, usando as tecnologias ou o manancial de livros que o rodeavam. Sentava-se na esplanada com os cigarros pretos de sabor a chocolate, acompanhado de um caderno preto e de um lápis, e sorvia de um só trago o café demasiado quente para lhe conseguir sentir o sabor. Preferia o caderno ao computador, porque os seus dedos disléxicos distorciam-lhe o sentido das frases e a ortografia das palavras que tanto prezava. Até neste texto, na quarta linha em vez de escrever “manias” escreveu “maneiras”, porque os seus dedos eram extremidades soltas que ganhavam uma electricidade própria quando perto de equipamentos electrónicos. Por isso preferia sempre um caderno preto, com um cordel que saía da contra-capa e atava à capa numa espiral ordenada.
Os seus passos eram dados a escapar, dos olhares alheios, por virar os seus sempre para baixo, pregados nas linhas do eléctrico ou nas palavras dos outros, que muitas vezes tomava para suas.
Um dia desses, um dia comum, esbarrou. Alguém ao inverso cruzava o caminho. Olhava para cima, para os fios da cidade e caminhava de olhos pregados nas janelas, desmasiado abertas e iluminadas, em jeito de provocação. Parou e por uma vez olhou em frente.