14.3.07

Cor tradição Verde contradição


Será verde a cor do que sinto? Não me parece que já esteja maduro o fruto que trago comigo. Fico assim, entre este verde, cor de absinto e o bandeira que tenho no coração. Na dúvida, decido esperar para que o verde mostre todos os seus pantones de cor, de uma mistura entre CMYC ou RGB.
A esperança é a última a morrer e verde é também a cor para viver. Queria que fosse um verde escuro, cor de garrafa, daqueles fortes que nos dão tudo e não pedem nada.

No fim vem a conclusão: esperar que o verde fique maduro é um erro e uma contradição.

13.3.07

Eu depois devolvo


Preciso de tempo.

Primeiro para me lembrar de tudo.
Depois para esquecer
Preciso de tempo.
Para saber o espaço da tristeza
e o tamanho da desconfiança.
Preciso de tempo.
Para estar só,
e para depois poder estar com alguém
Mas sou tão má gestora do meu tempo,
que só peço vários intervalos.
Absorvo tudo ao mesmo tempo.
Preciso de mais,
talvez um prolongamento.
Prometo que depois compenso.
Devolvo o tempo.

12.3.07

Luz vaga - Mesa


Luz vaga, luz vesga, a tua cruz
Já não sai da cama, a minha luz

Da sala, do quarto

Pilha a palavra
Troca a quantidade, do assunto modal
A tensão está normal
O lábio fora da boca,
A boca fora do mal

Os teus olhos não são de gente
O teu ar foge para cima
Tens a perna no cimento,
Tens a mão no pensamento

Ciclope, cicloturismo
Na parte de fora, na nesga do abismo
Imaginário que remete, para onde ainda não fui

Convite ao Universo
Com a tua própria câmara
Fecho a luz num olho
Prego a tábua à sensação

Som da casa, quando não estás...

Dancei para te ver aqui,
eu sei que nada mais pode me ajudar
É do nono andar? Sim
Quis pedir ajuda, mas a língua estava morta
Sei lá! Parei de olhar,
tenho uma corda acesa, prestes a queimar
Não és capaz de me levar a sério.
Vou saltar em teu lugar.

Sei que nada mais pode me ajudar

Atrasa o passo
Leva o lenço à boca
Fica na mira do choque frontal
Não é doença, é um animal
Um ruído feito no acto de fingir
seres mau, mesmo a dormir.

2.3.07

Era uma vez


Era uma vez um texto que não queria ser só um texto. Ele queria ser lido e comentado. Ele queria ser famoso. Este texto queria ser complexo e cheio de conteúdo, daqueles que mexem contigo e com o mundo. Ele queria ser daqueles textos que se lê e sublinha, que quase se sabe de cor, daqueles textos que se partilha com os amigos, se envia a todos no trabalho e se imprime. Daqueles que guardamos nos favoritos. Ele queria ser brilhante. Este texto tinha pretensões em ficar na história, em deixar uma marca. Então começou a trabalhar para o ser. Acrescentou mais adjectivos, vocabulário rico, fez frases de oito orações e usou toda a força dos advérbios e substantivos. Mas um dia o texto parou e n
ão gostou do que estava escrito. Estava a transformar-se num texto pomposo e sem sentido. Então o olhou para trás e recomeçou. Tirou as jóias e brilhantes, os artifícios e as marcas. Afastou os holofotes e quando pensou que ia ficar vazio, percebeu que afinal tinha todo o conteúdo para ser o que é hoje. Um texto com princípio, meio e fim.

Monopólio















Mesmo que fugaz,

condenado à partida,
mesmo antes da primeira jogada.
Há sempre a possibilidade
de avançar.
Duas voltas,
até à casa de partida
e depois recomeçar
uma e outra vez.
Com sorte faço um par
com os dados
da própria vida
que atiro.
Avanço duas voltas,
sem pensar,
passo pela casa de partida
e nada.
Com sorte
vou para a saída,
ou então fico presa
enquanto atiram os dados
da minha vida.
E eu vejo-a passar.

Setembro 2003

Branco e bonito


Recordo o teu sorriso,
branco e bonito.
Sentado na sala
olhas para os meus contornos
na penunbra da luz tardia.
Pedes-me um beijo,
digo que vou dormir.
Levas-me ao colo
sem ter de te pedir.

A roupa aquece
os corpos
e vai caindo
e nós
nos braços um do outro
vamos-nos
unindo.

Nada há a perder
nada é para esquecer.

O abraço forte,
o sorriso que não vejo,
mas adivinho...
branco e bonito,
na penumbra
da noite
tardia.

Dizes que ficas,
só mais um pouco.
Deixamos o sono cair
sobre o cansaço
do prazer
que nos faz sentir.

Pedes-me um beijo,
digo que vou dormir.
Dás-me um abraço,
sem ter de te pedir.

Julho de 2003