30.4.08

Bate, bate.


Tenho uma ferramenta nas mãos
que me sai da cabeça
em acelerada profusão.
Martela, martela,
teclas, teclas.
Palavras saiem
disparadas, feridas, magoadas.
Atiram-se como borras
para as folhas virgens
de papel cal.
E caiem, caiem
do martelo que me bate
bate, bate.
Até que eu o silencio
com os despejos de grotescos escritos
em sangue.
Da alma, das veias, das tripas
e um pouco do coração.

23.4.08

Esta música deixa-me feliz




Kings of Convenience - I'd rather dance than talk with you
(era o que me apetecia agora... shiuuuuu)

Ontem disseram-me


Solta-te. Tens qualquer coisa que te trava. Profissionalmente e esteticamente. Qualquer coisa que não te deixa ser mais. Disse-me ele.

Não te reprimas. Tens tanto sentimento aí dentro e sentes as coisas tão profundamente, que quando saiem são uma explosão. Disse-me ela.

Alegra-te. Quando o fazes contagias todos à tua volta e tens a energia de mexer com os outros, de os mover, de os levar. Disse-me outro ele.


E eu ouvi.

Há cidades que são bonitas por cima
Há cidades que são bonitas por dentro.




Procuro

Comprimidos da motivação.
De preferência em frascos de 90 unidades, mas não me importo de levar de 30 unidades. A dosagem pode ser de 50 mg ou 100 mg, depende do que houver, mas menos que isso não porque não me faz efeito nenhum. Preferia em comprimidos mesmo e não em cápsulas, que não me caem bem. Estou disposta a pagar bem e a comprar tanto nos mercados oficiais como nos alternativos, desde que tenha garantia de eficácia.
Alguém sabe?

Susto

À bocado olhei para mim. Toda eu sou velha, cansada, enrugada, varizes, arranhões, borbulhas, marcas, vermelhões, gordura, estrias, celulite, espigões, pêlos e irritações. Agora já não há mesmo mais nada que se aproveite. É oficial.

22.4.08

Pele


Também é minha:
http://www.e-pele.com/site/index.html

Doí

Tenho uma dor que me doí.
Uma dor doente.
Presente.
Tenho uma dor dormente
que me doí por dentro.
Persistente.
Tenho uma dor doente.
Ardente.
Que me doí hoje,
depois
e sempre.

I Feel - Cat Power

I feel like I'mma lose my life for this
I feel like I'mma have to fight for this
I feel motherfuckers they goin' say I'm wrong
I feel you're goin' get buck when you hear my song
I feel you don't even know how I feel
I feel if you hate me you got to get real
I feel like go to Texas and for me some brick
I feel the policeman making me sick
I feel like I could be the president
I feel like burning up their bodies to leave no evidence
I feel you don't even know how I feel
Respect my mind I'm just telling you how I feel

Do you feel like you could lose your life for this

Do you feel like you could fight for this
Do you feel like go to Texas and for me some brick
Do you feel the policeman I'm making you sick
Do you feel like you could be the president
feel like burning up their bodies to leave no evidence
Do you feel like they don't even know how we feel
I feel that they hate us, we got to get real
Got to get real, real






















Ilustração de Stina Persson

11.4.08

Alice


Um dia quero ter uma filha chamada Alice. Com caracóis pretos e bochechas grandes, rosadas. Como se pudesse escolher a minha preferida de uma montra de bonecas de porcelana.
Um dia quero ter uma filha chamada Alice, tal como em criança queria ter os barriguitas e depois
uma Barbie, e depois os pin-i-pons. Agora que já não tenho idade para brincar nem para "quereres", quero ter uma filha, que se vai chamar Alice, e que vai ser uma aventureira, e trepar árvores e ser um bocadinho de mim e tudo aquilo que não fui. Quero uma filha para cometer todos os erros que
a minha mãe cometeu. Para que ela possa ser mais do que eu.
Quero que aos 16 anos ela me diga que tem um part-time e que me peça para lhe comprar uma mochila grande porque vai viajar durante um mês. E eu vou dar-lhe a melhor mochila que encontrar, e uns jeans e uns ténis confortáveis e um bom casaco. E certamente vou meter-lhe algum dinheiro no bolso.
Quero que ela faça aquilo que gostar, nem que isso seja o estudo do ciclo das aves migratórias. Se for isso.
Se não for, quero que ela não tenha medo de mudar de curso.
Quero que ela não se sinta presa a uma profissão e se decidir mudar que mude também. Que não tenha medo de tentar ser feliz, de viver com menos, se isso lhe der mais. Não quero que ela seja alguém, porque ela já o será. Quero isto tudo para ela, mas se ela não quiser nada disto, queria só que ela se chamasse Alice.

Today



De-Phazz, Somethig Special

8.4.08

Me



MicroAudioWaves, Down with the flow

Liberdade Av.


Vestia umas calças caqui e um sobretudo creme. Na mão direita um guarda-chuva preto pendurado. Vasculhava o lixo. Tirou de lá um jornal. Avançou com a coluna dobrada. Parou. Compôs a postura e avançou para a paragem do autocarro. Para onde ia, não sei. Passava os seus dias na rotina de enganar os dias. Este era mais um. Mais um dia em que se ocupava do tempo e que o tempo se ocupava dele.

7.4.08

I love London in the Rain


Gostava de te conseguir fazer chegar o cheiro desta cidade hoje de manhã.

Hoje o dia acordou a saber a Londres. A cheirar a primavera de chuva nostálgica e a soar a "London in the rain" dos Variety Lab.
Hoje o dia acordou assim para me deixar feliz.
Smells like London and I love London in the rain...


4.4.08

Dialectos da ternura - Da weasel


Ela diz que me adora quando a noite vai a meio
Eu sinto-me melhor pessoa
Menos fraco, feio
Passa o dedo na rasta, com a mão bem suave
Encosta o lábio no ouvido e diz-me "Queres que a
lave?"
Vamos
para o chuveiro, ela flui e com a água,
Lava-me a cabeça, a alma e qualquer réstia de mágoa
Diz como é o amor e dá um certo calor na barriga
E consegue, quero sempre, sempre
Aquele nigga que lhe mete a rir rir
Quando eu lhe faço vir
Da terra até à lua mano, é sempre a subir
e somos grandes, gigantes com dez metros de altura
Falamos vinte línguas
Dialectos da ternura,
Tipo...

Uh, uh!
Yeah, yeah!
Faz, faz!
Bebé...

Água morna em pele quente, cor aberta não perfura
Minha alma já ‘tá nua, faço-lhe uma jura,
Jura para sempre teu,
Depois da noite volvida
Um segundo ao teu lado já preenche uma vida
O conceito de tempo não entra
Na sensação
Aquilo que vivemos esta gravado no coração
Segura
Na minha mão e continua a canção
É a melhor que já ouvi, reinventas-te a paixão
E ela diz que me adora quando o dia vai a meio
O copo passa de meio vazio para meio cheio
A palavra ganha vida e fala à minha frente
Sigo calmo atrás dela, deixo crescer a semente
E Diz-me

Uh, uh!
Yeah, yeah!
Faz, faz!
Bebé...

Yeah Yeah

Em cada beijo, há uma frase, em cada frase há um verso
Em cada verso há um lado do lado inverso
Uma história que ensombra a memória
Da leveza irrisória de uma conquista notória
Faço V de vitória, porque hoje eu sou rei
Ao lado da rainha com que sempre sempre sonhei
Foi por isto que esperei em cada noite que amei
Ou pensei que amei, porque é agora que eu sei
A razão da palavra consagrada
Que tanta gente dá à toa, em troca de quase nada
Ela não ‘tá espantada, pelo contrário relaxada
Revê-se na expressão da expressão enamorada
E diz-me...

Uh, uh!
Yeah, yeah!
Faz, faz!
Bebé...