31.12.08

Acabar em grande


Ando às voltas, há já alguns dias com este último post do ano. Não sendo uma bloguista dada a datas e acontecimentos de calendário para postar, senti-me compelida a fazê-lo após passear-me pela blogoesfera mais próxima. Desde resoluções de ano novo a resumos do ano velho, são várias os testemunhos de que 2008 não foi grande coisa. E eu, que não me queixo nem um bocadinho de 2008, também não tenho nada a dizer para 2009.
Pela primeira vez não quero.
Não quero mudar de ano, não quero saber o que aí vem, não quero fazer planos, não quero programar fim-de-ano com imensa antecedência e exitação, não quero ler o meu horóscopo personalizado mês a mês para o novo ano. Não estou cheia de esperanças que tudo vai mudar e que vão surgir montes de oportunidades com o novo ano. Pelo contrário, estou receosa, ansiosa e apreensiva. Não estou com um bom feeling, mas espero bem que este seja um dos meus feelings falhados. Espero mesmo.

Quanto a vocês que aí estão cheios de esperança, desejo-vos toda a sorte e preseverança.
Eu fico com os meus desejos para mim.
Nem às passas os vou dar.

30.12.08

As escadas rolantes e as pedras


Mais do que smarts fortwo e os seus donos, sim, porque desde o meu post sobre este tema tenho já toda uma nova série de acontecimentos. Mas adiante, que o assunto, agora é outro: o uso das escadas rolantes. Dizia eu, que mais do que smarts fortwo, chateiam-me as pessoas que não sabem usar as escadas rolantes e ali ficam tipo pedras.
Caríssimos cidadãos, eu, que não vivo em Londres, embora me sinta londrina, sofro de uma intolerância congénita perante o mau uso das escadas rolantes. Mencionei Londres precisamente pelo bom exemplo de funcionamento no que toca a este assunto. É andar lá uns tempos para perceber o que é que eu quero dizer. Ok, que eles têm underground há muitos mais anos do que nós, ok, que eles têm uma evolução cultural de cerca de mais de 50 anos do que nós, mas... por amor à Santa que vocês quiserem, eles também estão mais à frente porque fazem bom uso das escadas rolantes e como tal despacham-se mais depressa. Se não vejam: por cada minuto que eu não consigo caminhar, por ter um indivíduo a travar-me o caminho nas ditas escadas, é um minuto que eu me atraso para ir trabalhar, é um minuto que a minha empresa perde, é um minuto menos que o meu país é eficiente e produtivo! Agora multipliquem este minuto por vários, ao longo do dia, por vários, dias, meses e anos... e assim se percebe o nosso atraso de cerca de 50 anos.

Povinho que andas na rolante, por favor, chega-te à direita se vais parado, para dar passagem à esquerda aos que querem andar. Simples, não é? Funciona mais ou menso como no trânsito. Por isso, vamos lá casalinhos de namorados, mães com crianças, miúdas do liceu ou senhoras do escritório à hora de almoço, coloquem-se em filinhas e não lado a lado. O meu muito obrigada!

Ass: Uma cidadã apressada

29.12.08

O justo
























Foto de Jorge Alfar,
aqui

For the boys. In love.



The Presets - "This boy's in love"

19.12.08

Pedir


Pedir não custa, diz o ditado. Neste período os pedidos intensificam-se: pede-se ao Pai Natal, pedem-se objectos, pedem-se sonhos embrulhados.

Eu também gosto dessas coisas todas, mas também gosto muito de pedir felicidade, harmonia e saúde. E isto parece um cliché, assim escrito, mas não há outras palavras para dizer isto. E estes três pedidos são das coisas mais difíceis para o Pai Natal oferecer, mesmo com a ajuda de muitos duendes.
Mas pedir também custa. Custa-nos o orgulho. Eu não gosto nada de pedir ajuda, por exemplo, mas gosto de ajudar. E para mim ter de pedir ajuda é uma grande dificuldade. Por outro lado peço outras coisas grandes e pequenas, a toda a hora. Peço que aquela operação corra bem, peço que a minha amiga arranje emprego, peço a deus quando estou aflita, mesmo não acreditando nele, peço forças ao anjo-da-guarda, mesmo que ele não exista. Peço para que não esteja trânsito, peço um prato especial à minha mãe, peço para que a reunião não demore, peço para que o trabalho seja aprovado, peço um aumento, peço um café. Mas nunca tive de pedir uma esmola. E se para todos estes meus pedidos normalmente tenho uma resposta, se fosse uma mendiga, numa rua movimentada de Lisboa, numa hora de almoço, na véspera de Natal, de mão estendida a pedir uma esmola para comer, será que o meu pedido ia ser tão igualmente satisfeito? Mas, se eu fosse uma mendiga a pedir esmola, o que é que eu estava a pedir? Para além do dinheiro, que seria a prioridade, estava a pedir um pouco da vossa atenção, um pouco de afecto também. Um pouco de olhos nos olhos, um pouco que me vissem, e não só que me olhassem. Estava principalmente a pedir humanidade.
Acho que não é pedir muito? Pois não?


18.12.08

Quem encontrar


Quem encontrar este livro para mim, e me quiser oferecer,
terá a minha amizade e agradecimento eternos.





O SENHOR DAS PALAVRAS
Isabel Rosas (texto), Luís Silva (ilustração)
«O Senhor das Palavras era auxiliar dos escritores. Passava a vida a correr de linha em linha, a saltar de folha em folha, sublinhando ali, cortando acolá, pondo pontos em muitos “iiii's”. Era um trabalho difícil...».

Para começar pode ser isto

Para o fim-de-ano


Quero dois bons rapazes lá em casa a passar som.

Miguel Quintão e Álvaro Costa, pode ser?

Set de 17 Dezembro 2008 - 1ª hora

The presets - talk like that (cfcf remix) / yipiyo-ai

Lykke li - little bit c(css remix)

Hot chip & peter gabriel - cape cod kwassa kwassa (vampire weekend)

Kings of leon - use somebody / knocked up (lykke li vs rodeo remix)

Fleet foxes - white winter hymnal

The notwist - gloomy planets

Metronomy - a thing for me (breakbot remix)

Of montreal - gallery piece (minitel rose)

Animal collective - my girls

Digitalism - taken away
Lost valentinos - bismarck

Hot chip - touch too much (fake blood remix)

Sebastien tellier - kilometer (moulinex remix)

Empire of the sun - walking on a dream (treasure fingers remix)

The big pink - too young too love (delorean remix)

The hours - see the light

Zoot woman - grey day

Deerhunter - nothing ever happened

Telepathe - devil's trident (james rutledge remix)

Eine kleine nacht musik - ertrinken


Se quiserem podem ouvir aqui

17.12.08

Meio da vida ou a vida a meio


Quando aos 20 pensamos que nos acontece tudo, que não vamos passar pelos exames e stress todo dos trabalhos da faculdade, que não superamos o desgosto amoroso, que não superamos uma depressão
e nunca mais vamos querer sair do quarto, que um emprego será sempre uma incerteza. Quando aos 20 pensamos que nos acontece tudo, que não temos a nossa independência, que temos de lutar por um pequeno veículo de locomoção, que o nosso sonho profissional vai ficar muito aquém, que afinal não vamos ser felizes para sempre, que afinal a saúde dos outros não é tão garantida como pensávamos. Quando aos 20 pensamos que nos acontece tudo, vêm os 30.

E aos 30 voltamos a pensar que nos acontece tudo, os acidentes graves, o desemprego, as responsabilidades que não se conseguem pagar, as mortes, as doenças que nos rodeiam, as nossas próprias limitações, o divórcio, o filho sem pai, a gravidez não desejada, a desilusão definitiva no amor, a perda das expectativas e o enterro definitivo de muitos sonhos. Quando aos 30 pensamos que tudo nos está a acontecer… a verdade é que ainda só vamos a meio.

16.12.08

Hoje chorei


Chorei de cada vez que li este texto.
E foram muitas.
Com o meu maior respeito e admiração.
Retirado de http://paracucaginguba.blogspot.com/


"Não sei fazer isto melhor...

Farias hoje 65 anos mas paraste de os fazer antes dos 45. Há que convir que vinte anos é muito tempo sem os fazer e provavelmente já nem sabes com é. O último que comemoramos foi a 15 de Dezembro de 1987, se calhar já não te lembras, mas nesse dia não me deixaste comer o bolo de chantilly com ananás. Perguntaste-me se não me importava que o partilhasses com os teus colegas. Eu importei-me pai, porque percebi finalmente que ias morrer. Os teus colegas eram os doentes daquela enfermaria onde todos os dias aparecia o senhor “fim de viagem” Eu só tinha onze anos pai e, pior, tu só tinhas 44. Gostava que soubesses que me lembro de ti todos os dias, que herdei o teu feitio de merda (a mãe não diz asneiras mas tu eras mestre), também te herdei o sentido de humor, a simpatia, a sociabilidade, a inquietação e outras coisas boas e más (herdei a beleza da mãe, descansa). Gostava de te ter visto roxo de orgulho quando me fiz médica no dia do juramento hipocrático, gostava que me tivesses ensinado a conduzir, gostava de ter visto a tua cara no dia em que o teu neto Francisco nasceu, gostava que tivesses tido um PC e uma máquina fotográfica digital ias gostar tanto, gostava que soubesses que a mãe nunca tirou a aliança e que continua a pensar em ti sempre (és um chato mesmo depois de teres ido), gostava muitas, mas mesmo muitas vezes que estivesses ao pé de mim. Tenho pena de não entrar de braço dado contigo no meu casamento, que não vás ensinar aos teus netos que por dentro das pedras castanhas há estrelas, que não conheças o meu Francisco, tenho uma pena imensa que não estejas aqui."
, em 15 de Dezembro de 2008.

15.12.08

Ensaio sobre a Verdade

E se um dia eu te dissesse toda a verdade? E se um dia eu abrisse a boca e te contasse o que nunca pensaste ouvir de mim? E se um dia eu te disser que não te suporto, nem de passagem, que não te odeio, porque isso seria sentimento demais.
E se um dia eu usasse todas as palavras certas para te dizer todas as coisas que tenho como certas e nunca te disse. E se um dia fosse tão bruta como me acusas de ser, tão sincera e frontal como me acusas de não ser e te fizesse ouvir tudo aquilo que nunca quiseste saber sobre ti.
E se um dia eu te pregasse um estalo de palavras e te der lágrimas para contares por anos. E se eu fizesse isso mesmo um dia, será que ias acreditar em mim?

Querido Pai Natal,


Gostava de ser mais morena, e de ter um cabelo forte e encaracolado volumoso. Gostava de ser magra e alta. Gostava de ser mais sociável e menos arisca e de ter mais esperteza para a vida. Gostava de não ter borbulhas aos 30 anos e que a minha pele não envelhecesse. Gostava de ser muito simpática e querida por todos. Gostava de perceber de tecnologias da informação e fazer grandes contas de cabeça. Gostava de não ser preguiçosa e de voltar a ler 2 livros por dia em vez de ver tanta televisão. Gostava de ser tão inteligente e aplicada nos deveres como quando era criança. Gostava de ser menos frustrada e de estar de bem com a vida. De ser optimista e paciente e de não ficar ansiosa quando a coisas não correm como planeei. Gostava de não stressar com os outros, nem de os criticar quando falham e gostava de não falhar também. Gostava de ser mais profunda e de não ter os vícios que tenho. De não ser contida nem ressentida, nem magoada. Gostava de ser mais leve e de ser mais feliz.
Pode ser, Pai Natal?

12.12.08

Sugestão de fim-de-semana























Clickar na imagem para ler

10.12.08

Estes rapazes são bons


Bons Rapazes na Antena 3 dia 9 de Dezembro

If I Know You by The Presets
More The Presets music on iLike

Pnau - with you forever
Empire of the sun - standing on the shore

Whomadewho - tv friend

David holmes - holy pictures (james yuill remix)

Lemonade - big weekend (delorean remix)

The tough alliance - neo violence (shazam remix)

Hot chip - touch too much (fake blood remix)

The hours - see the light (calvin harris remix)

Matthew dear - pom pom (the juan maclean remix)
Digitalism - apollo-gize (fred falke edit)

Sebastien tellier - kilometer (moulinex remix)

Midnight juggernauts - shadows (kightlife remix)

Fleetwood mack - never forget (cut copy & lifelike remix)

Ladyhawke - paris is burning (cut copy remix)
Friendly fires - i'm good i'm gone(featuring Likke Li
Of montreal - gallery piece (minitel rose remix)
Lost valentinos - bismarck
Deerhunter - octet (simian mobile disco remix)
Home video - i can make you feel it
White lies - death
We have band - oh (plugs remix)

Lemonade - blissout


Por: Miguel Quintão e Álvaro Costa

5.12.08

Recently addicted


Só para ouvir.
E dançar, claro!!




Kleerup ft. Likke Li - "Until We Bleed"

4.12.08

Like "Li", I'm also Good, so I'm Gone


Working in the corner
Peeking over shoulders
Waiting for my time to come

Working in the corner
One day to the other
Butter on my piece of bun

Stepping a stone
and I'm all gone
Give me the tone
And i'm all gone
Yeah, i'm walking by the line
Not here, but in my mind

I'm working a sweat, but it's all good
I'm breaking my back but it's all good
'Cause i know i'll get it back
Yeah, i know your hands will clap
And I'm working,
Yeah, i'm working
To make butter for my piece of bun

And if you say I'm not OK
with miles to go
If you say there ain't no way that i could know
If you say i aim too high from down below
Well, say it now 'cause when i'm gone
You'll be callin' but i won't be at the phone

And i'm hanging around 'till it's all done
You can't keep me back once i had some
No wasting time to get it right
And you will see what i'm about

'Cause i'm working a sweat, but it's all good
I'm breaking my back but it's all good
'Cause i know i'll get it back
Yeah, i know your hands will clap

And if you say I'm not OK
with miles to go
If you say there ain't no way that i could know
If you say i aim too high from down below
Well, say it now 'cause when i'm gone
You'll be callin' but i won't be at the phone

(Working in the corner
Peeking over shoulders
Waiting for my time to come)

And if you say I'm not OK
with miles to go
If you say there ain't no way that i could know
If you say i aim too high from down below
Well, say it now 'cause when i'm gone
You'll be callin' but i won't be at the phone


_____________________________
Lyrics de "I'm Good, I'm Gone" - Likke Li
Ver vídeo num post mais abaixo entitulado Acoustic

... eu disse que ia saltar, e saltei! Muito!






Santogold Live at Super Bock em Stock, dia 3 de Dezembro.
O som está péssimo, mas foi FABULOSO!
E eu, saltei e dancei do princípio ao fim.

3.12.08

Vou ali saltar...



















... e já volto!

Today it will be... from dusk till dawn



Ladyhawke - "From dust till dawn"

http://www.myspace.com/ladyhawkerock

Molero


Entras em cena, assim!
Não olhas para o teu público
e muito menos para mim.
Entras grande e altivo,
cheio de texto,
mas contido.
Passos firme e seguros dás tu.
E o começo da cena está todo suspenso em ti.
Decides.
Como tu queres,
quando tu queres,
dizer
as palavras que não sendo tuas,
as tomas para ti.

E assim,
sais de cena.
Sem que se perceba
se foi apenas o início
ou já as palmas
do fim.

2.12.08

Música para os meus ouvidos



Placebo - "Running up that hill"


It doesn't hurt me.
You want to feel, how it feels?
You want to know, know that it doesn't hurt me?
You want to hear about the deal I'm making.
You, (If I only could, be running up that hill)
You and me (If I only could, be running up that hill)

And if I only could,
Make a deal with God,
Get him to swap our places,
Be running up that road,
Be running up that hill,
Be running up that building.
If I only could

You don't want to hurt me,
But see how deep the bullet lies.
Unaware that I'm tearing you asunder.
There's a thunder in our hearts, baby

So much hate for the ones we love?
Tell me, we both matter, don't we?
You, (If I only could, be running up that hill)
You and me (If I only could, be running up that hill)
You and me, won't be unhappy

And if I only could,
Make a deal with God,
And get him to swap our places,
Be running up that road,
Be running up that hill,
Be running up that building.
If I only could


Come on, baby, come on, come on, darling,
Let me steal this moment from you now.
Come on angel, come on, come on, darling,
Let's exchange the experience

And if I only could,
Make a deal with God,
And get him to swap our places,
Be running up that road,
Be running up that hill,
With no problems.

And if I only could,
Make a deal with God,
And I'd get him to swap our places,
Be running up that road,
Be running up that hill,
With no problems.

If I only could, be running up that hill
If I only could, be running up that hill
If I only could, be running up that hill
If I only could, be running up that hill
If I only could, be running up that hill
If I only could, be running up that hill
If I only could, be running up that hill

27.11.08

The (not so) SMART people

Há já algum tempo que tenho isto atravessado na alma, e hoje é o dia. Estou farta de Smarts (fortwo) e de donos de Smarts (fortwo). Para começar e não querendo generalizar, as pessoas com quem me tenho cruzado, donas de um desses semi-carros, devem, no fundo, achar que têm um carro completo. Meus amigos e amigas: não têm!! Por isso não se comportem como se tivessem!

Ponto 1: não se atirem para a frente dos outros automóveis como se fossem capazes de levar com uma tonelada de Corsa, Polo, Fiesta, Clio, Punto e outros que tais, e ficassem apenas com a traseira amachucada. Isso está longe de ser verdade. Vocês ficariam sim presos a uma cama de hospital o resto da vida!
Ponto 2: não andem na AE a 120km, nem a 100. Vá, o máximo dos máximos a 90km e mesmo assim há o sério risco de em caso de vento mais forte virarem pára-quedas de lata. Para além disso ao longe não são tão visíveis como um carro inteiro, por isso cuidado também com manobras.
Ponto 3: parem lá com as desculpas que não dá para levar muita gente, porque é um Fortwo e como tal só dá para levar 2 pessoas, entenda-se o condutor e mais um. E assim, a malta que tem o carro maravilha para levar para a noite, para estacionar no Bairro Alto e noutros sítios difícies que tal, nada disso! Acabam por ir à boleia nos carros de 4-5 lugares dos outros. Acho mal!
Ponto 4: este é de facto o mais crítico para mim e trata-se de estacionamento. Caríssimos e caríssimas, donos de Smarts que me estão a ler, POR FAVOR, não ocupem um lugar inteiro e bom nesta escassa Lisboa de parqueamento gratuito. É por isso que vocês têm um smart, para o poderem arrumar onde mais carro nenhum cabe!!! Certo? Perceberam? Pronto, se o senhor do stand não vos tinha explicado ainda isto, ficam agora a saber.

E pronto, o meu manifesto está feito.
Estou muito mais aliviadinha agora!

21.11.08

Aha Aha Aha Aha Aha




Santogold - "Say Aha"

13.11.08

"O grau de civilização de determinada sociedade
pode ser medido pela forma como trata os seus animais."

Mahatma Gandhi

10.11.08

A_idade_aos_bocados


Começam a cair aos bocados. Os nossos corpos são farrapos. São anos. Dentaduras, lentes, implantes, descolorações, extensões. Pegamos na bengala, nos óculos e nos dentes, tal como pegamos no casaco para sair. Não somos trapos nem farrapos, somos uma manta de retalhos, de próteses e extras que nos devolvem as funções originais. Somos um rasto do que fomos, exagerados no figurino, tentando parecer compostos. Pós na cara, cremes, batôns, penteados, lacas, casacos a naftalina preservados, que nos dão cheiro de mortos. E o que é que podemos fazer? Liftings, enchimentos, lipoaspirações, correcções. Já que as funções já falham e o ritmo desacelera o cérebro. E o que somos? Farrapos não, mas retalhos de passado. Não acabado, mas sim um pedaço da idade, aos bocados.

Acoustic



Likke Li - I'm good, I'm gone
Acoustic live version with guests: Robyn, Adam & Bebban (Shout Out Louds), Daniel (The Concretes), Lars (Laakso) and Mikael (Hjalmar).

7.11.08

Anne got a plan


















My name is Anne, I got a plan I may lack virtue But I'm penitent Ah-ooooh Ah-ooooh To lose my mind It's never easy A shadow still there's weight to me Ah-ooooh Ah-ooooh Jjj... jesus Pieces Rescue me the more I try the more it gets too complicated
Jjj...jesus pieces Rescue me The more I give up The more it takes The more it takes My name is Anne, I'll take a stand I'll hold my head up dig on in Ah-oooooooh You can bait me for the hell of it I'll take it for the hell of it See it there, but it's too far ahead Go numb from how bad I want it See it there but it's too far ahead And I hear you calling to me right from here Jjj... jesus Pieces Rescue me the more I try the more it gets too complicated Jjj...jesus pieces Rescue me The more I give up The more it takes The more it takes

Lyrics "Santogold - Anne"
Photo
Bill Tong

5.11.08

Brutal!


Dos textos ao acting.

Estes homens
são de ficção, mas eu acredito que existam na realidade.


Dia 5 de Novembro

Há dias que são importantes para nós, porque são importantes para quem está perto de nós. Há dias que marcam anos e decisões e festas e uniões. Porque hoje é um dia importante para ti, é um dia importante também para mim. Porque hoje é o teu 31º aniversário, o vosso 1º aniversário e o nosso 1478 dia de amizade, há muito para celebrar. Porque as celebrações podem ser silenciosas, aqui fica a minha forma de festejar, de coração.

29.10.08

A little bit



Lykke Li - "A little bit"
[Thank you Cat*]

Ontem...


Hoje, amanhã e depois, e depois e depois. Esta é a mensagem actual.


"Man, I see in Fight Club the strongest and smartest men who've ever lived. I see all this potential, and I see it squandered. God damn it, an entire generation pumping gas, waiting tables – slaves with white collars. Advertising has us chasing cars and clothes, working jobs we hate so we can buy shit we don't need. We're the middle children of history, man. No purpose or place. We have no Great War. No Great Depression. Our great war's a spiritual war. Our great depression is our lives. We've all been raised on television to believe that one day we'd all be millionaires, and movie gods, and rock stars, but we won't. We're slowly learning that fact. And we're very, very pissed off."


A música hoje é esta



MGMT - "Kids"
Acordei com esta.
A passar em loop no meu iTunes.


28.10.08

24.10.08

Hoje a música é esta

http://www.last.fm/music/Dinosaur+Pile-up/_/These+Gloves

Dinosaur Pile up -
"These Gloves"

A paragem

Conheci-te no meio da rua. Descobri-te dentro de casa. E um dia acabas comigo entre duas paragens de metro. Saíste e nunca mais te vi.
Um dia encontro-te no meio da rua. Reconheço-te. Eu conheço-te. Estamos diferentes, numa cidade diferente e vamos descobrir-nos durante uma viagem. Entre duas estações de metro recomeçamos. Até chegar a minha paragem. Onde acabo. A nossa viagem.

22.10.08






















(...) "Scream when your life is threatened. Form a noise so true that your tormentor recognizes it as a voice that lives in his own throat." (...)

From the exhibition at Tate Modern London, in 12 October 2008

Distância




















Lisboa a Londres
= 2123 Km.
E no entanto, a mesma lua.

21.10.08

Lista


Falta-me a música que me faz repetir até riscar.

Falta-me o livro que consigo ter vontade de acabar.
Falta-me o filme que me deixa a pensar.
Falta-me as conversas com as amigas que me ajudam a esquecer e perdoar.
Falta-me o colo da minha mãe e a segurança do meu pai.
Faltam-me as saudades dos que já foram.
Falta-me a falta dos que já não quero saber mais.
Falta-me um caderno escrito.
Falta-me o orgulho e a garra de gata.
Falta-me o músculo.
E o mais importante.
Faltas tu, que eu tenho sempre em falta.

E faltas tu.

20.10.08

À minha memória

Às vezes esqueço-me. De mim própria. Do que sou capaz de fazer, do que já fiz. Às vezes, cada vez com mais frequência, esqueço-me. Do que sou, do que sei. E às vezes esqueço-me do que sinto. Do que é isso. Não é a analogia de ser espectador do meu próprio papel de actriz nesta vida. É quase autismo. E às vezes dura, cada vez mais, tempo demais. E depois tenho de voltar e conhecer-me e lembrar-me. E às vezes esqueço-me de como isso se faz. Até um dia em que não me vou lembrar mais.

16.10.08

A música hoje é esta

http://www.last.fm/music/Adem/_/The+Walls+Have+Ears

Adem - The walls have ears

Único


"Enquanto não superarmos a ânsia do amor sem limites, não poderemos crescer emocionalmente. Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a procurar-nos noutras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser único."


Fernando Pessoa

9.10.08

hello LONDON, i'm back to you




Because this means a lot to me. Because I love London. Because I love it even more in the rain... See you next age.

This could be underwater L.O.V.E




















Fotografia de Zena Holloway,
aqui www.zenaholloway.com

8.10.08

08/10/08


Ao bater das 19:00h
1000 visitantes em 37 dias
Estou contenta! Mas podia estar triplamente mais contenta!
Toca a vir visitar-me mais vezes e é favor não se assustarem com o preto nem com os textos mais sérios, ok?

Portas


"Acordo.
Levanto-me.
Tomo duche.
Visto o fato da coragem, coloco o perfume do sou capaz.
Maquilho o rosto, alongo as pestanas, aplico o bâton.
Escovo o cabelo e ponho a fita do tudo vai passar.
Calço os meus melhores sapatos.
Pego no casaco vermelho e na mala com flores.
Encaminho-me para a porta.
Respiro fundo e abro-a.
Volto a inspirar, entra o sol, o ar da manhã e o cheiro a terra molhada.
Fecho a porta... e volto a entrar."



De Noir_Lulu,
em http://thingsthatmakeusdo.blogspot.com/

3.10.08

Hoje a música é esta




Letra adaptada do poema original "Apontamento" de Álvaro de Campos.
Cantada por Margarida Pinto.

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"A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caiu pela escada excessivamente abaixo
Caiu das mãos da criada, descuidada
Caiu, e eu fiz-me em mais pedaços que a loiça que havia no vaso

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia
E os deuses que há debruçam-se da escada
Para ver o que a criada fez de mim

Não se zangue m com ela
São tolerantes com ela

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações que quando me sentia eu
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu

A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caiu pela escada excessivamente abaixo
E os deuses que há debruçam-se da escada
E sorriem à criada
Não se zanguem com ela
São tolerantes...

A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caiu, partiu-se, caiu
A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caiu, partiu-se, caiu

O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?

Alastra a escadaria atapetada de estrelas
Ao fundo um caco brilha entre os astros
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
E os deuses olham-no por não saber por que ficou ali.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações que quando me sentia eu
O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?"

25.9.08

Num sinal STOP


Será que é o medo que me impede?

Servir Portugal


Pega-se em metade do Oceano
e juntam-se-lhe terras desconhecidas.
Deixa-se marinar alguns anos
e tapa-se com um manto de neblina.
Lavam-se as saudades em lágrimas
e põe-se a glória em banho Maria,
para voltar a usar um dia.
À parte coloca-se o fado bem apurado,
o futebol bem jogado, e um ou outro pregão
das entranhas gritado.
Desfaz-se a língua em poemas,
odes e cantigas
ou então canta-se à desgarrada.
Rima improvisada.
Numa grande forma de barro
escalda-se o Algarve e o Alentejo,
salgam-se as Beiras e desfaz-se em água
o Douro e o Ribatejo.
Para terminar abanam-se as Oliveiras
com sabedoria ancestral.

Rega-se tudo com um fio dourado.
E serve-se assim Portugal,
como prato principal.

Azeite Gallo. A cantar desde 1919

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Texto da última campanha do Azeite Gallo, realizado pela BBDO Portugal.
Parabéns ao meu colega copy, e ao realizador e ao director de arte e ao director de fotografia e à equipa de produção. Brilhante! O making-off aqui e o filme aqui:


22.9.08

Alguém me pode oferecer?


A cadeira amarela, a ventoinha verde e os pins de parede?
Respondam aqui que eu dou-vos a minha morada.
OBRIGADA.

Criaturas*


Aqueles seres que estão no limiar entre o ser humano e o animal.

*mais conhecidos como clientes

17.9.08

Amo este Homem

Por estas e por outras.



























Jpg que fiz para partilhar com vocês.
Já é do fim de Julho da revista Visão, mas é intemporal.
Clicar em cima da imagem para ler.

A minha mão


Tem meia vida traçada. O aperto é forte, dessa juventude que ainda se vê. As marcas vão ficando, das correrias, dos brinquedos, das noites, dos gatos. Tem cinco dedos. Podia ser do outro sexo, pela indelicadeza dos traços, mas está decorada de verniz, que não deixa enganar. Tem cinco dedos. Completos. E unhas compridas e verniz de cor garrida, e por vezes tem anéis, que lhe valem pouco mais do que enfeite. Tem cinco dedos. Completos e angustiados. Sem papel, tem cinco dedos incompletos.


(1º exercício: 1 minuto)

16.9.08

Silêncio

Por favor cala-te. Calem-se todos. Deixem o silêncio falar, que eu preciso de o ouvir. Hoje mais do que nunca, não me posso deixar adormecer e ele mantem-me acordada. Por favor desliguem os motores, baixem os estores com cuidado, fechem as portas com vagar, que eu preciso do silêncio para acordar. Escuto o que me diz, sem um pio, sem um som, sem ruído, sem contestar. Com toda a razão, tamanho é o etéreo de uma massa vasta, vazia de agudos e de graves, tamanho o alcance que pode ter quando não tem nada para dizer. Entra devagar pelas frechas das portas, pelos buracos das fechaduras, às costas de um gato, entra devagar e instala-se num canto. Ele sabe esperar. E quando tudo se cala, quando eu preciso, ele sim, começa a falar.

12.9.08

11.9.08

Dominik Eulberg - Björn Borkenkäfer

Extrawelt - Titelheld



Para ouvir e dançar até cair para o lado.
Ouvir melhor em last.fm

9.9.08

Sai


Há qualquer coisa dentro de mim que quer sair, mas não sai. Nem com forceps, nem empurrando. Nem com murros, nem vomitando. Há qualquer coisa atravessada, ameçada pela crítica, pelo julgamento feroz que insiste em esconder-se e a esconder-me do autêntico que sou eu e ninguém sabe. E até eu começo a esquecer. Há qualquer coisa dentro de mim que podia ser mais, mas que não deixo jamais trespassar. Há qualquer que começa a ganhar mais força, mais forte do que eu própria, uma força que só ela tem e que está a ser difícil de continuar a abafar. Há qualquer coisa dentro de mim, que uns dizem chamar-se alma, que parece que me quer abandonar, mas lá no fundo, só quer gritar. Há muito que qualquer coisa dentro de mim está em coma e agora eu tenho de lhe dar as mãos. E puxar. E ressuscitar.

8.9.08

Cut Copy - Hearts on Fire



Fecho os olhos e de repente estou no meio da pista e sou a estrela e brilho mais que a bola de espelhos e danço melhor que nunca e não me sinto cansada. E de repente brilho e sou uma estrela e subo, e todos olham para o tecto e eu continuo a dançar no centro da pista e parece que estou a flutuar. Não me sinto no chão, não me sinto presa, sem movimentos previsíveis, cem movimentos saiem ao mesmo tempo e eu sou a estrela e brilho mais, muito mais que os demais.

Da amizade e essas coisas


É garantido tomarmos as amizades por garantidas, mas as amizades, tal como o amor são frágeis e mutáveis. É garantido que na vida teremos amigos que duram e amigos que passam, amigos que marcam e aqueles que se desmarcam. É garantido que teremos companheirismo, horas de risos e algumas de choro, segredos mais íntimos revelados pelo chão e pelos copos, promessas vãs de
eternidade sob um qualquer balcão de um bar a fechar. É garantido que teremos pedidos de desculpa sentidos, telefonemas não retribuídos sem razão, desilusões que gostaríamos de evitar e arrependimentos que teimam em nos marcar. É garantido que chega um dia em que que queremos acabar com tudo, lavar a roupa suja e recomeçar, mas o que a amizade tem de garantido é o passado e as bases que a fizeram alicerçar. Um dia podemos virar costas e abandonar a amizade, mas nunca o conseguimos, nem que mudemos de país, porque uma amizade faz parte de nós, como nós fazemos parte dela e por mais que se queira, se ela for mesmo amizade, virá atrás.

6.9.08

Questão


Pensa metade do que diz ou diz metade do que pensa?

2.9.08

Do amor e essas coisas


A verdade é que nunca o amor será eterno. Nunca será para sempre. Mesmo o amor daqueles que nos dão vida. A verdade é que temos de nos habituar a esta ideia. E à ideia de que a morte, a doença, a política ou a religião nos poderão levar isso que tínhamos como garantido. A verdade é que os amores partem, mudam e mudam-se de coração, e havemos de nos debater com esse desconsolo por toda a humanidade. A verdade é que o amor tem dessas coisas e podemos
continuar a achar que fizemos alguma coisa mal, ou que o outro fez algo mal, ou a questionar o porquê, o como ou o quando. A verdade é que acontece todos os dias, a todas as horas, e vai acontecer a cada um de nós pelo menos uma vez. A verdade é que podemos fugir, mas não nos podemos esconder, porque o amor tem destas coisas. Coisas que nunca vamos conseguir perceber.

27.8.08

Palavras que gosto sem razão


Sarrabeco
Beldroegas
Cutumiço

Chafarica
Borbotos
Esquálida
Borgalhotas
Peúgos
Barbaridade
Ceroulas
Mirabolante
Regueifas
Pimpolha
Cacachuete
Muchacha
Pespineta
Rebiteza


...


to be continued

26.8.08

Thank You Paul


“TRAPPED. It’s not because you are making the wrong decisions. It’s because you are making the right ones. We try to make sensible decisions based on the facts in front of us. The problem with making sensible decisions is that so is everybody else.”

“I WANT. Making the safe decision is dull, predictable and leads nowhere new. The unsafe decision causes you to think and respond in a way you hadn’t thought of. And that thought will lead to other thoughts which will help you achieve what you want. Start taking bad decisions and it will take you to a place where others only dream of being.”

“ARE YOU BEING REASONABLE? Most people are reasonable; that’s why they only do reasonably well.”

By Paul Arden
"Whatever You Think, Think the Opposite"

Vou comprar maçãs


Um dia destes vou comprar maçãs e não volto.

6.8.08

Fórmula de emagrecimento


Comprovada e atestada. Ao que parece mudar de emprego ou o divórcio tem resultados bombásticos na perda de peso (particularmente em zonas localizadas). Sendo que eu não posso fazer o segundo tratamento, vou tentar o primeiro.

Wish me luck.

5.8.08

Abandono


Não sabe o nome da rua onde vive. Não sabe que horas são manhã, nem noite. Não sabe dizer um único nome, nem distinguir as cores. Não sabe escrever, não sabe ler e não sabe falar nem compreender as palavras com exactidão. Não percebe de política, de terrorismo, da fome, nem tão pouco do aumento do preço da gasolina. Não tem dias de férias, porque não tem dias de trabalho. Não sabe se o preço dos alimentos está cada vez mais caro, nem que é preciso mais contenção. Mas sabe que quando uma porta se abre é sinal de alegria. Sabe que quando uma porta se abre significa passear ou o dono a regressar a casa. Não sabia que naquele dia aquela porta que se abria e que o levava directamente a um lindo jardim, se fechava. E afastava, afastava fechada.


Um bem-haja à S.O.S Animal, União Zoófila, Liga Protectora dos Animais e a tantas outras pelo trabalho na ajuda e protecção dos Animais Abandonados.

30.7.08

Vento


Gosto quando o vento
tem a força de empurrar o meu
corpo displicente
e de arrastar o meu
cabelo como se ele não
me pertencesse.

29.7.08

Para Louis, o Artista...


"
Em Março fui a Paris para uns colóquios na Sorbonne e na Fundação Gulbenkian: estranha coisa falar e ouvir falar dos meus livros. As pessoas tão generosas e eu a sentir que mal comecei. Em Março ou Abril? Princípio de Abril, julgo que princípio de Abril, as flores começavam, cheirava um bocadinho a sol. Jantava todas as noites com a Dominique e a Victoire, a mulher e a filha do Christian Bourgois, meu editor, que morreu em Dezembro. Meu editor, meu amigo. Tenho tantos editores e não sou amigo de quase nenhum. Do Christian era, sou. Nunca foi um homem fácil. Eu também não. E, no entanto, que maravilha de conversas no silêncio, que partilha tão grande. Desde muito cedo, como ele o disse, fez seu o preceito de um general veneziano do século dezassete, chamado Montecuculi. Montecuculi não lembra ao Diabo. Afirmava o general que é preciso agarrar sempre a ocasião pelos cabelos mas não esquecer que ela é careca. E isto é o único programa de vida possível. A casa desabitada sem o Christian e no entanto a sua presença em toda a parte. Parece um paradoxo: não é. Jantares difíceis para mim, carregadinho de saudades. Tantos anos de trabalho juntos, decepções, alegrias. Não há escritor no mundo que admire tanto como tu, escreveu-me na carta em que anunciava o cancro. E depois três anos. E depois nada. A Dominique e eu falámos e falámos para mobilar o silêncio. Até de livros. A certa altura veio com um álbum da Plêiade dedicado a Faulkner, escritor dantes tão importante para mim: – O que o homem sofreu a vida inteira
disse ela. E de facto sofreu como um cão a vida inteira. Respondi
– Conheces algum artista que não sofra, conheces algum artista feliz?
Todos eles atormentados, contraditórios, num desespero e numa angústia constantes, mesmo sob o humor, sob a alegria. Os meus queridos russos, Tolstoi, Gogol, Tchecov. Scott Fitzgerald, que sustentava não ser possível escrever a biografia de um escritor porque ele é muitos. É necessário roermos as passas do Algarve para que o leitor tenha prazer. E que mistura de sangue e júbilo na criação, outros sentimentos de que não falo por pudor. Graham Greene agora, para variar: «um escritor é um homem de barba por fazer e copo na mão, cercado de criaturas que não existem». E Gogol destruindo toda a segunda parte das Almas Mortas, uma obra-prima, chorando. Já que estou em maré de citações lembro-me de Apollinaire, poeta com quem aprendi muito: «piedade para nós que trabalhamos nas fronteiras do ilimitado e do futuro». Era isso que ele suplicava: piedade para nós, tende piedade de nós. A beleza que nos dão saiu-lhes do pêlo, rasgaram a alma por ela. E a Dominique a olhar para mim com a tal piedade que Apollinaire desejava. Como é possível coexistirem num só homem ou numa só mulher tanto sofrimento e tanta exaltação? O apartamento do Christian, cheio de quadros, retratos, livros. As árvores dos Invalides, a rua Vaneau, onde Gide morava, a mesma do hotelzinho em que fico sempre, no quarto sessenta e cinco com vista para um jardim. Os pombos de Paris tão diferentes dos pombos de Lisboa, esguios, ferozes, poisados nos ramos, não nas casas. Piedade para nós, etc., piedade para o nosso trabalho. Quero morrer de caneta na mão, meu Deus fazei com que eu morra de caneta na mão a lutar com as emoções, as palavras. A lutar com o Anjo, pobre Jacob que sou. A gente deixa a pele nisto. Se alguma glória posso ter é essa: não os prémios, o reconhecimento, o louvor: apenas a sina de uma vida dedicada a tentar iluminar o mundo com a minha lanterninha. Por muito grande que seja não passa de uma lanterninha. Graham Greene enganou-se, as criaturas que ele diz que não existem, existem de facto: somos nós. Habitamos o Monte dos Vendavais, a Guerra e Paz, as Meninas de Velázquez, os trios de Beethoven, o Danúbio Azul, e ao habitar o imenso país que essas obras são vencemos o tempo e tornamo-nos imortais. Apollinaire dizia piedade para nós, e em lugar de piedade o que devemos sentir é gratidão: deram nexo à nossa existência. Fizeram da gente seres enormes, apesar de bichos da terra tão pequenos como no verso de Camões. Esta é a ditosa Pátria minha amada: nunca li tal coisa sem me comover. Parece tão simples, não é? Esta é a ditosa Pátria minha amada: reparem na mão que é necessária para chegar a isto. A Dominique:
– O que o homem sofreu a vida inteira
e é verdade. Sofreram a vida inteira, mas é graças a eles que estamos vivos. É graças a eles que somos dignos do Reino dos Céus, que trouxeram para a terra. E os pombos de Paris a olharem para mim de banda, com vontade de me engolirem. Por favor não me engulam por enquanto: há tantos livros em mim à espera de serem escritos."


António Lobo Antunes, Visão

Um conto em script

QUEDA

20 horas, Brasil, Rio de Janeiro. Começa a festa mais badalada do ano. As meninas da alta sociedade que tinham atingido a maioridade, iam estrear-se no baile de debutantes. Nervosas preparam-se para entrar. O chão é de um luzidio mármore branco.

01 hora, Portugal, Sesimbra. Num bar de praia está marcado um concerto reggae, seguido de um Dj. Os apreciadores amontoam-se lá dentro e à porta. O chão está coberto de areia.

21 horas, Inglaterra, Londres. Num restaurante japonês um grupo de amigos comemora um aniversário. Só falta uma pessoa, que está presa no trânsito, para o grupo ficar completo. O chão é de tábua de madeira corrida.

Maria põe o imaculado sapato branco, no primeiro degrau da escadaria. Coloca a mão no corrimão e finca os dedos, enquanto observa a composição da sala. Estava muita gente e ela não podia chamar a atenção. Os sapatos novos e muito altos prendiam-lhe a circulação nos pés.

Ana entra com as amigas na festa. A batida reggae já se sente e aproveita para exibir a sua figura, bem justa por baixo das calças de ganga e do top, ao ritmo descontraído da música. Uma manequim tem de estar sempre fabulosa, pensou. Olha à sua volta e vê outros colegas de profissão. Dirige-se a eles, enquanto folga o lenço que lhe aperta o pescoço.

Sara sai atrapalhada do táxi. Deixa cair o porta-moedas e molha o cinto da gabardina na poça de água, quando se baixa. Passa a mão pelo cabelo e compõe o gancho. Tinha de estar sedutora. Respira fundo e antes de empurrar a porta, puxa para baixo a armação do soutien, que lhe magoa o peito.

O pai de Maria inicia-a na primeira valsa, após a entrada glamourosa. Os pés continuam apertados, mas a dor ajuda a que se concentre mais. Enquanto vira e rodopia, coloca os olhos nos vestidos e jóias das outras, mas principalmente nos rapazes da sala. Era a sua apresentação oficial à alta sociedade brasileira, embora já conhecesse muito bem uma grande parte dela. A festa da sua maioridade vinha tarde. Há muito tempo que era mulher.

O fotógrafo da revista da moda tira a primeira fotografia a Ana. Mexe no lenço que a sufoca enquanto faz uma ou duas caras mais fotogénicas. Ao ritmo dos disparos do flash repara nas outras manequins da festa. Não era a sua primeira party rodeada de outros modelos, mas como habitual sentia-se insegura. Conhecia toda a gente do meio, mas não conhecia ninguém.

O aniversariante recebe Sara de braços abertos e convida-a sentar-se ao lado dele. Sente a armação do soutien a entrar pelas vértebras adentro e falta-lhe o ar. Tenta distrair-se com a conversa e a decoração do restaurante. A toda a volta cetim vermelho e preto, flores de lótus e lanternas. Antes do sushi, já tinha bebido dois copos de saké. Queria sentir-se solta e desinibida para fazer o que tinha vontade.

Maria finalmente pára para descansar os pés, que já não sente. Não que o pai dançasse mal, pelo contrário, mas querer esconder uns avantajados 39, numa forma de 38 só podia provocar o entorpecimento. Tudo corria como previsto. Ninguém desconfiava de nada. Ninguém se desmanchava.

Ana dança ao som do reggae, com o lenço a bambolear sobre o peito e com o olhar perdido. Não que o ambiente não estivesse interessante para se olhar, mas queria esconder-se no meio de toda a gente. Parecia que tinha conseguido. Já ninguém lhe tirava fotografias nem pedia autógrafos.

Sara finalmente sente-se solta. Já nem sente a armação do soutien. Não é que este estado de espírito fosse natural. O saké fez a diferença pretendida. Estava perto do seu objectivo. Ninguém parecia importar-se com o que fazia.

A debutante Maria, decidida a mais umas danças com os rapazes novos, levanta-se e dirige-se para o centro do salão. Passa por um grupo de senhores distintos que entre dentes sussurram “...olha esta... toda de branco... não me engana... é uma das garotas insaciáveis das noites de máscara... sei pelo cheiro” Todos riem em uníssono, como só um clube privado pode fazer.

Ana, manequim de sorrisos amarelos, decide ir refrescar-se à casa de banho. Pelo caminho dos encontrões, encontra quem não queria. Afasta-se, desvia a cara, mas num puxão disfarçado de carinho, ele agarra-a pelo lenço do pescoço e chega-a de encontro ao peito. Passa-lhe a língua pela orelha e murmura... “foste a minha melhor virgenzinha... que saudades...”

Sara com o calor, do álcool e das hormonas, vai à casa de banho retocar a compostura. Molha o pescoço de olhos fechados enquanto ouve a porta a mexer. Abre os olhos de rompante com o toque de uma mão entre o peito e o soutien. A mulher revela-lhe ao ouvido “estás linda hoje... queremos os dois ficar contigo.”

Maria tenta sair num andar acelerado sobre o deslizante chão de mármore branco. Os pés não resistem e cai sobre o imaculado salão de baile.

Ana tenta soltar-se com um movimento brusco, mas o lenço na mão do homem aperta-lhe o pescoço e dá-lhe um esticão que a atira para o chão de areia do bar.

Sara com a sua mão pega na mão da outra e fá-la deslizar suavemente para fora do vestido. Ajeita a armação do soutien e quando dá o passo em direcção à porta, escorrega na humidade e cai seca no chão de madeira.

São 23 horas e acabou o baile.

São 04 horas e acabou o concerto.

São 00 horas e acabou o jantar.

25.7.08

Not up,
not down.
On the side.
But not left,
neither
right.


















Betty: "Louco é aquele que faz repetidamente as mesmas coisas, na esperança de que o resultado seja diferente."

Daniel: "Mas eu não sei como mudar as coisas que faço."
Betty: "Se calhar tu é que tens de mudar, e assim o que fazes acabará por mudar também."






24.7.08

Em Lisboa não se dá o troco à mão


Triste constatação a minha. Após uma semana de empenhada investigação concluí que nos cafés/ pastelarias/ esplanadas desta nossa cidade há um código que impede os empregados de entregar o troco em mão. O que me deixou já, por várias vezes, de mão estendida enquanto olho para as moedas a serem colocadas com estridente acompanhamento sonoro no balcão... 2 centímettros ao lado da minha mão. Eu não sei se é pelo estigma de ter a mão estendida, como se de uma esmola estivesse à espera, mas de facto o que tenho pago ultimamente por um pãozinho com queijo e um Compal Fresh, faz-me começar a pensar se não estarei à espera de uma esmola e não do troco.

Mas, dizia eu, não sei se é pelo estigma, mas a verdade é que não há o hábito de entregar o troco a quem já tem a mão estendida à espera dele. E isso chateia-me profundamente. Chateia-me tanto que hoje, acompanhada do meu mau-humor matinal, não me contive mais e repondi à senhora do café, num tom difícil de explicar, mas que se encaixava entre o comentário, crítica e a rabujice "mas porque é que não me dá o troco na mão? Estou aqui de mão estendida e a senhora coloca o troco em cima da mesa, faz-me fazer figura de parva e ainda perder mais tempo a amealhar estas pequenas moedas que teimam em ficar coladas ao balcão".... Acho que fui um bocado caústica, mas a verdade é que provoquei uma reacção numa mente que nunca antes tinha pensado nisso. Não sei em que é que a vida daquela senhora vai melhorar ou piorar depois da minha intervenção. Não sei em que é que a minha vida e a dos outros clientes daquele café vai melhorar ou piorar depois da minha observação, mas ao menos reclamei por um serviço que não estava a considerar adequado, e pode ser que assim, as pessoas desta cidade comecem a olhar mais para o outro, ou pelo menos comecem a dar o troco em mão.

23.7.08

Radiohead - knives out


O vídeo mais bonito do momento.