26.1.10

Lab.Ir.Into


Algures pelo caminho perdeu-se. No labirinto dos dias rotineiros, na sucessão dos dias e dos anos. Algures no comodismo perdeu-se. Entre um sofá demasiado alcochoado, um tapete felpudo ou uma cama de penas. Algures entre a azáfama de chegar a todo o lado, não foi a parte nenhuma e quando pensava que já mil milhas tinham sido percorridas, olhou para o chão e viu que nem um passo tinha sido dado. Algures entre chegar a todos, os seus ouvidos deixaram de ouvir e a boca de falar. Algures no caminho começou a sentir saudades. Sentia era a falta de si mesma.

Felices los normales


Felices los normales, esos seres extraños,
Los que no tuvieron una madre loca, un padre borracho, un hijo delincuente,
Una casa en ninguna parte, una enfermedad desconocida,
Los que no han sido calcinados por un amor devorante,
Los que vivieron los diecisiete rostros de la sonrisa y un poco más,
Los llenos de zapatos, los arcángeles con sombreros,
Los satisfechos, los gordos, los lindos,
Los rintintín y sus secuaces, los que cómo no, por aquí,
Los que ganan, los que son queridos hasta la empuñadura,
Los flautistas acompañados por ratones,
Los vendedores y sus compradores,
Los caballeros ligeramente sobrehumanos,
Los hombres vestidos de truenos y las mujeres de relámpagos,
Los delicados, los sensatos, los finos,
Los amables, los dulces, los comestibles y los bebestibles.
Felices las aves, el estiércol, las piedras.

Pero que den paso a los que hacen los mundos y los sueños,
Las ilusiones, las sinfonías, las palabras que nos desbaratan
Y nos construyen, los más locos que sus madres, los más borrachos
Que sus padres y más delincuentes que sus hijos
Y más devorados por amores calcinantes.
Que les dejen su sitio en el infierno, y basta.


[obrigada minha linda!]

25.1.10

Ofereço

Simpatia, amizade eterna e uma limpeza doméstica, a quem me arranjar/vender/oferecer um bilhete para The XX (Porto ou Lisboa). Agradecida.


[Nota: isto tudo incluído, mais o preço que pedirem pelo bilhete, no caso da venda.
No caso de oferta, serei vossa concubina/ escrava para todo o sempre.
]

[yesterday] night time [and more to come]



You mean that much to me
And it's hard to show
Gets hectic inside of me
When you go
Can I confess these things
To you
Well I don't know
Embedded in my chest
And it
Hurts to hold

I couldn't spill my heart
My eyes gleam looking in from the dark
I walk out in stormy weather
Hold my words, keep us together
Steady walking but bound to trip
Should release but just tighten my grip

Night time
Sympathize
I've been working on
White lies
So I'll tell the truth
I'll give it up to you
And when the day come
It will have all been fun
We'll talk about it soon

And I couldn't spill my heart
My eyes gleam
Looking in from the dark
I walk out in stormy weather
Hope my words keep us together
Steady walking but bound to trip
Should release but just tighten my grip

Night time
Sympathize
I've been working on
White lies
So I'll tell the truth
I'll give it up to you
And when the day come
It will have all been fun
We'll talk about it soon

Nas nuvens


É o nome do filme interpretado por George Clooney, que eu ontem fui ver, numa sala tão cheia, que eu sozinha tive dificuldades em arranjar um lugar, mesmo a faltarem ainda cinco minutos para as apresentações. Fiquei precisamente no meio da sala. Na fila do meio, no lugar central. Foi claustrofóbico. Mais ainda depois de ter passado os últimos largos dias em terreno campestre silencioso. Mais ainda quando o filme começa a mexer cá dentro e nós queremos saltar dali ou estar à vontade o suficiente para poder apreciar. Mas não. Contorci-me toda na minha cadeira, meti para dentro, estive à beira da ansiedade e de tanto me controlar acabei com uma enxaqueca valente. Mas valeu o filme. Parecia que me tinham colocado um colete de forças e sujeitado a uma qualquer sessão de estímulos neurológicos num hospital psiquiátrico para provarem que eu era humana e ia reagir. Reagi sim. Eu, e talvez mais de metade da sala, dado o silêncio que a invadiu de repente. Agora é que começa a parte pior. Fora dos ecrãs, in the real life, com os dois pés na terra, a ter de lidar de frente com a situação que eu achava já estar resolvida.
BACK!

17.1.10

gone

























[imagem daqui]

Esqueci-me de me esquecer de ti


Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?


As pessoas têm de morrer, os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar. Sim, mas como se faz? Como se esquece?


Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saiem de lá. Estúpidas!


É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou de coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza so há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembra-lo. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doida, devidamente honrada. É uma dor que é preciso, primeiro, aceitar.


É preciso aceitar esta magoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos moí mesmo e que nos da cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução.


Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos distrairmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.


O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos, amigos, livros e copos, pagam-se depois em conduídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.


Porque é que é sempre nos momentos em que estamos mais cansados ou mais felizes que sentimos mais falta das pessoas que amamos? O cansaço faz-nos precisar delas. Quando estamos assim, mais ninguém consegue tomar conta de nós. O cansaço é uma coisa que só o amor compreende. A minha mãe. O meu amor.


As pessoas nunca deveriam morrer, nem deixarem de se amar, nem separar-se, nem esquecer-se, mas morrem e deixam e separam-se e esquecem-se. Mas é preciso aceitar, é preciso sofrer, dar murros na mesa, não perceber. E aceitar. Se as pessoas amadas fossem imortais perderíamos o coração.


Há grandeza no sofrimento. Sofrer é respeitar o tamanho que teve um amor. No meio de remoinho de erros que nos resolve as entranhas de raiva, do ressentimento, do rancor ? temos de encontrar a raiz daquela paixão, a razão original daquele amor.


As pessoas magoam-se, separam-se, abandonam-se, fazem os maiores disparates com a maior das facilidades. Para esquece-las, é preciso choca-las primeiro. Esta é uma verdade tão antiga que espanta reparem como ainda temos esperanças de contorna-la.


Para esquecer uma pessoa não há vias rápidas, não há suplentes, não há calmantes, ilhas nas Caraíbas, livros de poesia ? só há lembrança, dor e lentidão, com uns breves intervalos pelo meio para retomar o fôlego.


Podemos arranjar as maneiras que quisermos de odiar quem amámos de nos vingarmos delas, de nos pormos a milhas, de lhe pormos os cornos, mas tudo isso não tem mal. Nem faz bem nenhum. Tudo isto conta como lembrança, tudo isso conta como uma saudade contrariada, enraivecida, embaraçada por ter sido apanhada na via pública, como um bicho preto e feio, um parasita de coração, uma peste, uma barata esperneante: uma saudade de pernas para o ar.


Quando já é tarde para voltar atrás, percebesse que há esquecimentos tão caros que nunca se podem pagar. Como é que se pode esquecer o que só se consegue lembrar! Aí, está o sofrimento maior de todos. Aí está a maior das felicidades.


[Miguel Esteves Cardoso, Último Volume,1991]

15.1.10

"Nem sempre as nossas boas intenções acabam por ser refletidas nas nossas acções."

[thank you for the wise words Cat.]

14.1.10



















[Podem mandar vir daqui para me oferecerem.]
"Some people never change even if change is what they´re wishing for".

Food for thought

12.1.10

Somehow I must find it alone...




She'll be gone soon
You can have me for yourself
She'll be gone soon
You can have me for yourself

But do give
Just give me today
Or you will just scare me away

What we built is bigger
Than the sum of two
What we built is bigger
Than the sum of two


But somewhere
I lost count of my own
And somehow
I must find it alone


24 and blooming like the fields of May
25 and yearning for a ticket out

Dreams burn
But in ashes are gold
Dreams burn
But in ashes are gold

Choose Love

I choose to hide
But I look for you all the time
I choose to run
But I'm begging for you to come
I wanna break
But I know that you can take
I stay a while
To be sure that you're by my side
Oh, oh

Don't look at me, just look inside
'Cause I can go through
Tell me, are you goin' tired
Of what I don't do
I wanna see, I wanna fight
'Cause I don't feel scared
Honey, if you care

I choose to find
Things that you left behind
I choose to stare
But I can take you anywhere
I wanna stay
But my soul leaves you anyway
Can close the door
And love, could you give me more
(...)


[já ouvi esta música centenas de vezes, mas nunca tinha ouvido esta letra]
Penso demais.
Faço de menos.
O TEMPO
TEM PÓ

E EU TENHO
PÓ AO TEMPO























© unknown

11.1.10

5.1.10

Elogio ao amor, amor puro


"(...)Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.

Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do «tá bem, tudo bem», tomadores de bica, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso «dá lá um jeitinho» sentimental. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Por onde quer que se olha, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor é amor. É essa a beleza. É esse o perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para levar-nos de repente ao céu, a tempo de ainda apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A «vidinha» é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.

O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita. Não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que se quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.

Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperante. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

© Miguel Esteves Cardoso - Livro "Último volume" 1991
[de mim para Cat. e de Cat. para mim. E de mim para quem sabe ler]