31.1.08
27.1.08
Mata-me a mim
Quase esperar a tua morte. Lenta. Mata-me a mim também.
Não saber se este ano chegas aos teus anos. Mata-me a mim também.
Assistir a tudo de braços cruzados e não poder fazer nada. Mata-me a mim também.
Cada pedaço que a doença te tira. Tira-me a mim também.
Queria substituir-te na dor, na tristeza e dar-te a minha vida também.
Cada menos que és, para mim és ainda mais. Serás sempre mais que todos.
E és mais que ela. E eu também.
Que ela não te vença. Que ela não te leve a ti.
Porque eu não quero que ela me leve a mim, também.
18.1.08
Baile
Soltas-me o centro.
Dás-me cócegas nos pés
e fazes-me cair.
Tenho dores por dentro,
que sabem bem,
e mil formas de acabar
este momento.
Volto-me e revolto-me,
presa no meu eixo.
Fixas-me o pensamento
até que suspire.
Giro no meu centro,
e solto,
o riso.
Dos meus pés
até ao chão.
16.1.08
15.1.08
Escolhas
Quando temos um par de calças que nos estão boas e nos são confortáveis, não significa que não olhemos para outras na loja. Acontece que um dia de tanto olharmos para as outras calças nas lojas, eventualmente um dia expeimentamos mesmo umas. Depois deste passo, das duas uma, ou estamos dispostos a pagar o seu elevado preço no momento ou vamos embora e decidimos pensar melhor no assunto. No caso de decidirmos pensar melhor, acontece uma de duas coisas, ou o par de calças novo acaba por nos sair da cabeça, ou pensamos nelas constantemente, vamos à loja e saímos de lá com elas, pagando o preço do imprevisto das novas e de ter de deixar as que nos estavam boas e confortáveis.
14.1.08
Os velhos do BA
Vendem animais de papel com línguas de fora, tiram fotografias a grupos e casais, vendem a solidão por um punhado de tostões e a próxima refeição por um copo de vinho. São os velhos que sobreviveram à prisão das vozes, à escassez de alternativas, à luta dos direitos. São os nossos antepassados com as memórias perdidas na rua. Os nossos lutadores abandonados de vida. Vagueiam sem forças pelos bairros antigos de Lisboa, e quando a cidade se enche de dia, tornam-se baços. Vagueiam de cobertor e sacos de plástico à procura de qualquer espaço onde se possam arrumar. São os nossos tapa-buracos e a quem desviamos a cara com o embaraço.
Até para os animais de rua olhamos com mais atenção.
10.1.08
Vamos ao fundo
Quando temos os pés e as mãos atados.
Odeio camisas. Brancas. Colarinhos.
Sufocam a voz.
Cintos, com buracos. Chapas.
Apertam o plexo da alma.
Saltos altos. De bico.
Dedos esterlicados.
Chumbo pesado.
Odeio camisas. Brancas. Colarinhos.
Sufocam a voz.
Cintos, com buracos. Chapas.
Apertam o plexo da alma.
Saltos altos. De bico.
Dedos esterlicados.
Chumbo pesado.
Subscrever:
Mensagens (Atom)