12.12.10

Custa-me





 
Custa-me. Cada esquina de rua que vejo ocupada. Custa-me tanta comoção aqui contida. Custa-me cada viela a escorrer. Sem lágrimas de dor e de sangue. Custa-me ver. Custa-me não fazer nada. Custa-me cada vez que me estendem a mão. Custa-me ver a indiferença alheia, de mãos nos bolsos, camisola Burberys, a dois passos sem conseguir estender um tostão na outra direcção. Custa-me o crescente desamparo que parece crescer na medida que crescem as esquinas habitadas. Cada vez vejo mais  pessoas a passar cheias de desapego, de desemoção, de deixa-me em paz. Custa-me os prefixos que arrastamos pelos outros. Não fico aqui a ver isto. Não. Custa-me. E ter esta comoção faz de mim mais um sentado, num beco escuro, a mirar a desilusão.

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