26.11.10

Quem paracuca assim não é de vista curta:

"(...) Depois é esta treta do orçamento de estado. Ora vamos lá a ver, eu, burra que nem um calhau com olhos, entendo menos do que zero de macro economia. Não sei, nem quero saber, como é que se governa um país. Agora não aceito a culpa que me querem emprestar. Ah e tal temos todos que fazer um sacrifício porque há meia dúzia de anormais que esgotaram a receita. Vamos lá viver todos um bocado pior porque estes gajos têm às costas um milhão e cem mil derrapagens orçamentais mais uma má gestão de trinta anos de governação centrista. Ai que agora vou eu pagar o caracinhas dos submarinos que serviram para enriquecer não sei quem que vai continuar em liberdade. Ora ide todos à merda. A culpa não é minha. Não quero pagar. Recuso esse ónus. Tenho outros no currículo e na consciência mas desse juro que sou inocente. Quero pagar sim mas se os culpados forem presos. É esta a minha condição.
Posto isto, resta-me ir ali ao lado bater com a cabeça na parede."
 
 
[texto da autoria de Paracuca]

19.11.10

Se os ses não fossem daqui.


Se eu fosse de outro país, de outra cidade, de outra origem, seria tanta coisa. Se eu fosse, seria outra. Se nascesse noutro ambiente, com outros pais seria quem, como e porquê? Estaria aqui porque este era mesmo o meu caminho, ou no outro lado do mundo a fazer o que a outra metade da minha alma me pede para fazer. Não pode ser. Não pode ser só isto. Isto é pouco demais para ser só isto. Desepero na esperança de ver que não pode, que vai acontecer uma vida fabulosa pela minha frente. Daquelas vidas que fazem história, que marcam os outros, uma geração. Não sei que talentos ainda escondo, que coisas posso revelar os outros, mas urge a descoberta, a fusão do eu que nasceu aqui  com o eu que se sente puxado pela outra cidade, pelo outro espaço, que sabe que poderia ter sido muito mais se lhe tivessem dado ao menos essa oportunidade para ser. Ao nascer.

14.11.10

Coisas pirosinhas e queridinhas, mas que eu gosto, nem sei porquê





[gettyimages®]

As minhas pessoas


As minhas pessoas são poucas e no entanto são tantas. As minhas pessoas por vezes estão loucas, tontas, tristes e noutras estão calmas, certas, justas e sanas. As minhas pessoas são diversas, são por vezes a minha razão, a minha orientação, a minha outra perspectiva, o meu auto-conhecimento, o meu espelho. São o meu colo, o meu ouvido, o meu coração. As minhas pessoas são tudo, porque conseguem ser tantas, sendo tão poucas. Porque não são minhas, sendo, porque não sou delas, querendo ser.  São pessoas como eu, que choram também, e anseiam e entristecem-se. Que têm falhas e erram e gritam e dizem palavrões. Que desesperam, que se perdem, que não se esquecem. Que magoam, que custam, que doem, mas que perdoam, que pagam e que curam. 
Essas são as minhas, as que escolhi, ou não. As que tenho e que quero manter. Cada uma tem um nome, uma cara e um lugar. Um lugar onde pouca gente consegue entrar, mas onde estas pessoas, mais do que conseguirem entrar conseguiram ficar.


[às amigas]

11.11.10

Do trabalho



Estou no processo de digestão da minha não viagem a Londres. Uma viagem que demorei a decidir fazer, que quando decidi comprei bilhete com um tempo de dois meses ainda de espera, mas que ansiei a cada dia que passou. E foram passando e aproximando e eu sem saber se sempre ia ou não. Estou profundamente arrependida e a tentar lidar com a minha decisão de ter cancelado uma viagem que tanto desejava, que tanto precisava, por causa de trabalho. Para já não falar do dinheiro que perdi. E isto leva-me a pensar em todo os jantares que faltei, às saídas de amigas que não consegui ir, aos cinemas desmarcados, aos cafés no Chiado eternamente adiados, aos concertos falhados, às férias adiadas, aos fins-de-semana estragados. Isto leva-me a pensar na quantidade de vida que deixei por viver para estar a trabalhar, para garantir o meu, sim, mas para dar a outros a enriquecer, com pedaços da minha vida a perder. E para quê? Para ter sido irrelevante no momento de libertar peso no barco, ser a primeira a ir borda fora. Para quê? Para não ter tido nenhum tipo de consideração. E como a vida me ensina, e ensina bem, as histórias tendem a repetir-se, a não ser que nós façamos alguma coisa de diferente. E eu aprendi que não vivo para trabalhar, mas trabalho para viver e é essa a minha prioridade. Por isso vou dar a volta à minha vida, se ainda quiser ter alguma. Ah, e o nariz tende a crescer com a idade. Quanto mais depressa vivermos mais depressa ele vai começar a ficar maior.

5.11.10



Abandonei  este blog às moscas. Sem explicação prévia, ou posterior, desliguei-o. Já nem a minha barra de internet o reconhece quando começo a escrever "ch". Tudo se deve a uma mudança de dever. E depois também de vontade de escrever, e ainda penso eu que escrevo (...) ou que virei a escrever um livro ou assim qualquer coisa. Quanto muito um punhado de folhas amchucadas que alguém encontrará espalhadas pelo chão de um escritório já inutilizado, que concentra o cheiro misto de alimento e cigarro. A escrita de antigamente já não volta, a pessoa que a escrevia já não volta. Já não tem os mesmos gostos nem vontades. Já não sabe muita coisa e ficou a saber outras tantas. E no meio das coisas que já não sabe, acha que já não sabe escrever.

3.11.10

Da espera


‎"É a altura de escrever sobre a espera. A espera tem unhas de fome, bico calado, pernas para que as quer. Senta-se de frente e de lado em qualquer assento. Descai com o sono a cabeça de animal exótico enquanto os olhos se fixam sobre a ponta do meu pé e principiam um movimento de rotação em volta de mim em volta de mim, de ti " (...)

 

[Luiza Neto Jorge]