1.2.07

Tudo bem?


Sim. Está tudo bem. Está sempre tudo bem, ou não? Três palavrinhas apenas fazem-nos esquecer. Há quatro anos sem um aumento, nem ajuste no ordenado, mas está tudo bem. Desde que dê para pagar a casa e o carro. O petróleo a subir e os juros a aumentar. Precisamos da água, do gás e da luz para viver. Na comida não podemos poupar, temos os filhos a crescer. Livros e música para quê? Afinal, temos as contas para nos entreter. Decide-se onde cortar. Corta-se na vida. Na alegria.
Então, o que é que podemos fazer? Apertamos mais o cinto, mas tudo bem, afinal ser magro é saudável. Ser pobre é que não. Faz bem à saúde do Estado andar a população com o coração na mão. Mas tudo bem. Está tudo bem. Quem se importa com o do lado, quando tem um milhão?
Ficar doente não é opção, mas Deus queira que não. Ficar de baixa sem receber é o preço a pagar, mais o dos medicamentos e das consultas, isto se não houver exames a acrescentar. No final ficamos pior do que estávamos, com o valor a pagar. Mas se um amigo nos encontra na rua e nos pergunta, claro que está tudo bem. Nem que o marido nos bata em casa, ou ande metido com alguém.
Sim. Está tudo bem, pelo menos por palavras, que têm o dom de nos fazer esquecer, por momentos, o desalento em que estamos.

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