2.3.07

Era uma vez


Era uma vez um texto que não queria ser só um texto. Ele queria ser lido e comentado. Ele queria ser famoso. Este texto queria ser complexo e cheio de conteúdo, daqueles que mexem contigo e com o mundo. Ele queria ser daqueles textos que se lê e sublinha, que quase se sabe de cor, daqueles textos que se partilha com os amigos, se envia a todos no trabalho e se imprime. Daqueles que guardamos nos favoritos. Ele queria ser brilhante. Este texto tinha pretensões em ficar na história, em deixar uma marca. Então começou a trabalhar para o ser. Acrescentou mais adjectivos, vocabulário rico, fez frases de oito orações e usou toda a força dos advérbios e substantivos. Mas um dia o texto parou e n
ão gostou do que estava escrito. Estava a transformar-se num texto pomposo e sem sentido. Então o olhou para trás e recomeçou. Tirou as jóias e brilhantes, os artifícios e as marcas. Afastou os holofotes e quando pensou que ia ficar vazio, percebeu que afinal tinha todo o conteúdo para ser o que é hoje. Um texto com princípio, meio e fim.

2 comentários:

Ricardo disse...

Muito bom!

JM disse...

O meu conselho a este texto é que deixe de se preocupar com o ser famoso mas que continue em busca do brilho... e que esse brilho seja o cintilar do talento e não o dos adjectivos... parece-me que ele já está no bom caminho ;)
Mas quem sou eu para dar conselhos.
Bjnhs