30.10.07

Mau perder


Aos 19 anos perdeu a virgindade.

Aos 29 perdeu as expectativas.

26.10.07

The Nicest Thing - Kate Nash





All I know is that you're so nice,
You're the nicest thing I've seen.
I wish that we could give it a go,
See if we could be something.

I wish I was your favourite girl,
I wish you thought I was the reason you are in the world.
I wish I was your favourite smile,
I wish the way that I dressed was your favourite kind of style.

I wish you couldn't figure me out,
But you always wanna know what I was about.
I wish you'd hold my hand when I was upset,
I wish you'd never forget the look on my face when we first met.

I wish you had a favourite beauty spot that you loved secretly,
'Cos it was on a hidden bit that nobody else could see.
Basically, I wish that you loved me,
I wish that you needed me,
I wish that you knew when I said two sugars, actually I meant three.

I wish that without me your heart would break,
I wish that without me you'd be spending the rest of your nights awake.
I wish that without me you couldn't eat,
I wish I was the last thing on your mind before you went to sleep.

All I know is that you're the nicest thing I've ever seen;
I wish that we could see if we could be something...


I WISH TOO


24.10.07

Um dia...


UM DIA rapo o cabelo

UM DIA escondo-me à chuva
UM DIA ponho os traços no T
UM DIA adopto uma criança
UM DIA choro lágrimas doces
UM DIA corro sem sentido
UM DIA pego em ti ao colo
UM DIA escrevo a verdade
UM DIA gosto de mim tanto quanto gosto de ti.
UM DIA.

Inspirado em Zofia

17.10.07


Quando ela mais precisava que ele lhe desse a mão, ele não.
Ficou para trás
à espera de uma qualquer outra mão livre para dar.

30 (14/10/1977)

Lembra-se de ir brincar para o jardim do Campo Grande e de andar numa bicicleta com duas rodinhas suplementares atrás para equilibrar. Lembra-se de dar comida aos patos e de ter sido bicada nas costas por um cisne gigante. Mas não se lembra de ter chorado ou gritado. Lembra-se de andar de cadeira de baloiço e cair. Mas não se lembra da dor. Lembra-se do dia em que lhe deram o cão e de lhe atirar estrelitas para o fazer escorregar no encerado chão da cozinha. Lembra-se do Professor Barbosa do sétimo ano, mas não se lembra do elogio que ele fez à composição que escreveu sem começar com "era uma vez". Lembra-se de ter ido à enfermaria do colégio levar uma vacina e ter desmaiado. Lembra-se do queque que lhe deram a seguir, de ir zonza para a aula de matemática e de não se lembrar o que era um triângulo escaleno. Lembra-se da professora com a sua enorme verruga, mandar as suas colegas limpar o chão molhado da chuva, mas não se lembra do que era chuva.
Lembra-se de ajudar a mãe a fazer filhoses no Natal e de procurar as prendas escondidas em casa, desembrulhar, brincar com elas, e voltar a embrulhá-las. Não se lembra das viagens de carro para o Algarve. Mas lembra-se de saltar do pontão na ilha da Fuzeta e nadar ao lado das raias, de apanhar camarões com a mão e perder as raquetes do sobrinho da vizinha. Não se lembra do raspanete. Lembra-se da saia rodada colorida da mini-up que a mãe lhe comprou na loja O balão, no Rossio, e de se orgulhar dela na colónia de férias em Almocageme.
Lembra-se do rapaz que lhe quis dar o primeiro beijo, mas não se lembra do primeiro beijo. Lembra-se do primeiro namorado e dos telefonemas às 5 da tarde que estranhava. Não se lembra quando foi o último. Lembra-se de ter saudades da avô, mesmo sem se lembrar da cara dela, só do cheiro. Lembra-se de levar o cão ao veterinário e de não o voltar a ver. Lembra-se do magusto na Ericeira, em que o avô caiu. Não se lembra como chamou a ambulância e como o levou para o Hospital. Lembra-se de ser responsável, mas não dos disparates. Lembra-se de todos os sonhos de adolescente. Não se lembra de os ter concretizado todos. Lembra-se de ser criança,
de ser adolescente e de ser adulta. Mas não se lembra de ser alguém e ter 30 anos.

9.10.07

Desmentido oficial


No meio não está a virtude.
Está a vergonha.

8.10.07

Kabum


Não parava de mexer aquele corpo antropomórfico. Inquietante energia escavada da ingestão de anabolizantes e estimulantes. Um ritmado suor caia-lhe da testa, dos braços, dos membros e escorria-lhe facilmente pelas curvas escorreitas. Ao bater das vibrações, as colunas agitavam o seu woofer que libertava graves quentes e contagiantes. As artérias e veias pulavam de sangue, e batiam aceleradas pulsações de ritmos cardíacos. Rosto ao rubro, tensão máxima, testosterona inchada
na sua mais primitiva forma mascaravam cem quilos de massa física no limite.
Quatro paredes fechadas num tecto e num chão de pedra preta fria, aqueciam ao vapor dos bamboleantes.
Ninguém se via, não via ninguém, até que o tombo duro e ruidoso do seu pesado corpo no chão estremeceu as estruturas, obrigando a suspensão do festim electro-erótico, por motivos de segurança arquitectónica.

Reflexo

Um pé seguido do outro, parecem andar muito depressa. Vê o reflexo dos pés no vidro e estranha a sua vagareza.
Um pé a seguir ao outro, parecem andar muito depressa. Vê o reflexo dos pés no vidro e encontra dois cepos de elefante.
Um pé depois do outro, parecem andar muito depressa. Vê o reflexo dos pés no vidro e descobre o amputado que não anda.