11.4.08

Alice


Um dia quero ter uma filha chamada Alice. Com caracóis pretos e bochechas grandes, rosadas. Como se pudesse escolher a minha preferida de uma montra de bonecas de porcelana.
Um dia quero ter uma filha chamada Alice, tal como em criança queria ter os barriguitas e depois
uma Barbie, e depois os pin-i-pons. Agora que já não tenho idade para brincar nem para "quereres", quero ter uma filha, que se vai chamar Alice, e que vai ser uma aventureira, e trepar árvores e ser um bocadinho de mim e tudo aquilo que não fui. Quero uma filha para cometer todos os erros que
a minha mãe cometeu. Para que ela possa ser mais do que eu.
Quero que aos 16 anos ela me diga que tem um part-time e que me peça para lhe comprar uma mochila grande porque vai viajar durante um mês. E eu vou dar-lhe a melhor mochila que encontrar, e uns jeans e uns ténis confortáveis e um bom casaco. E certamente vou meter-lhe algum dinheiro no bolso.
Quero que ela faça aquilo que gostar, nem que isso seja o estudo do ciclo das aves migratórias. Se for isso.
Se não for, quero que ela não tenha medo de mudar de curso.
Quero que ela não se sinta presa a uma profissão e se decidir mudar que mude também. Que não tenha medo de tentar ser feliz, de viver com menos, se isso lhe der mais. Não quero que ela seja alguém, porque ela já o será. Quero isto tudo para ela, mas se ela não quiser nada disto, queria só que ela se chamasse Alice.

2 comentários:

Z. disse...

Outra vez lá, T.
Muito bom.

c disse...

gosto muito deste teu texto, vou gostar da alice também, como gosto de ti :)