1.9.11

Escritos pelo "O Arrumadinho"

Textos retirados do blog http://oarrumadinho.blogspot.com

 
Pais e Mães Solteiros

Há mulheres que defendem que os homens que já têm filhos devem ser retirados do "mercado" porque as relações com eles são uma fonte de problemas. Há outras que defendem mais ou menos o mesmo, e que sugerem que os pais divorciados devam apenas relacionar-se com mulheres na mesma situação, já que se compreendem mutuamente e têm mais facilidade em lidar com os problemas inerentes aos "filhos dos outros".

Lembro-me de há uns anos ter tido uma discussão violenta com uma pessoa que me disse que o facto de eu ter um filho representava "uma limitação". E apesar de, racionalmente, eu perceber o sentido da palavra "limitação", e de até entender que para uma mulher solteira e sem filhos será mais confortável envolver-se com um homem sem filhos, custou-me muito ouvir aquilo. E quem pensa assim poderá estar a querer evitar um problema para mergulhar num ainda maior.

Nos dia de hoje parece-me demasiado preconceituoso e até estúpido pensar-se que os pais (ou mães, claro) divorciados são "fontes de problemas", e que os filhos que eles trazem de outros relacionamentos representam "uma limitação". Mas será preferível encontrar uma pessoa que não tem essa limitação, mas que depois é viciado em álcool? É preferível encontrar uma pessoa que não tem essa limitação, mas depois trabalha 15 horas por dia, e passa os fins-de-semana a trabalhar no computador de casa? É preferível encontrar uma pessoa que não tem essa limitação, mas depois odeia viajar, não gosta de livros e passa o dia em casa deitado no sofá a vegetar? É preferível encontrar uma pessoa que não tenha essa limitação, mas que se revela um ser completamente acéfalo e desinteressante?

Todos temos limitações, umas maiores do que outras, umas mais graves do que outras, mas claro que para se vencerem essas limitações é preciso esforço e empenho. Conquistar uma criança, o seu afecto, o seu amor, parece-me uma tarefa bem mais interessante do que afastar um homem do álcool, da droga, ou lutar contra a profissão dele, para que a relação não esteja sempre em terceiro ou quarto plano (atrás do trabalho, dos amigos, da família, etc.).
Claro que há gente que pode não ir à bola com criancinhas, mas lá está, ultrapassar potenciais problemas dá trabalho, obriga a alguns sacrifícios, mas as relações fazem-se, também, de momentos altruístas, em que se calhar não estamos a fazer o que mais nos apetecia na altura, mas estamos a "trabalhar" para a felicidade comum. Para um padrasto ou uma madrasta, ir à Kidzania com o enteado pode ser a coisa mais entediante do mundo, mas também pode ser um momento em que nos entregamos a ele e participamos, com ele, num momento de felicidade, o que só irá fazer com que ele goste mais daquela pessoa nova que entrou na vida dele.

Claro que depois há o outro lado, que não depende da criança, que é a relação do nosso companheiro ou companheira com a ex ou o ex. É óbvio que vai ter de haver esse contacto durante muitos anos, mas parece-me que quando os casais estão separados todas as conversas, todos os contactos, todos os assuntos andam à volta do mesmo: a criança. Há gente mais intrometida, há casos de paranóia, mas na maior parte dos casos o tempo resolve isso.
Acredito, sobretudo, que quando se ama não se deve desistir de alguém só porque essa pessoa tem um filho de outra relação. Conquistar a criança pode ser um desafio fascinante, que terá como retribuição amor. E isso não tem preço.

Por outro lado, hoje em dia, quando o número de divórcios cresce todos os anos, quando parece que todos temos cada vez menos paciência para fazer funcionar os casamentos, o que mais começa a haver é pais e mães solteiros. E a pessoa que hoje recusa um homem porque ele tem um filho pode bem ser, amanhã, a discriminada. Pensem nisso.

É tão difícil encontrar gente boa, interessante. Se vamos limitar o universo, excluindo os que já têm filhos, arriscamo-nos a acabar com um traste. Mas ao menos vem sem "mochila". Que bom.



Os filhos mudam tudo

Os filhos mudam tudo.
Deve ser uma das frases que mais oiço a pais vividos, quando em conversa com os pretendentes a papás.
E na verdade os filhos mudam tudo.
Há quatro dias, uma das minhas melhores amigas foi mãe.
Há três dias, um dos meus melhores amigos, que foi pai há uns meses, separou-se.
A ela tive de dizer que os filhos mudam tudo, e alertei-a para muitos perigos de quem já passou pelo nascimento de um filho; a ele tive de dizer que os filhos mudam tudo, e tranquilizá-lo quanto ao futuro, porque também já passei por tudo o que ele está a passar.

Hoje, acho que os filhos mudam tudo, mas tenho a certeza de que é fácil ser-se feliz com a nova realidade que nos bate à porta de um dia para o outro, e que nos rouba muitos momentos fantásticos a dois, substituindo-os por outros que podem ser ainda melhores, mas a três. E o mais importante de tudo é mesmo ter a noção do que se vai encontrar, perceber o que vai mudar, ter consciência do trabalho e das privações que vamos ter pela frente, e estar preparado para todo esse mundo novo.

A maior parte dos casais que se separam após o nascimento de uma criança não sabem lidar com esse mundo novo. Não o dominam – deixam-se dominar; não o enfrentam – anulam-se; não percebem que a vida deles não acabou – está apenas a começar num novo formato.

Os medos delas
Homens e mulheres têm posturas diferentes relativamente à questão da gravidez/nascimento da criança. Já assisti a imensas discussões sobre este assunto e quase todos batem nas mesmas teclas.
Elas sentem-se mal com o corpo, porque engordaram como nunca e têm borbulhas, e tornozelos agigantados. Sentem-se mal de saúde, porque estão muitas vezes enjoadas, e inchadas e com dores de costas. Sentem-se com a auto-estima em baixo, porque se acham feias e desinteressantes. Sentem-se amedrontadas, porque têm medo de falhar, têm medo do desconhecido, têm medo de não corresponder ao que lhes é exigido, têm medo de não saber tratar de um bebé. Sentem-se inseguras, porque acham que os parceiros já não as acham sexy e vão querer saltar para cima da colega de trabalho. Sentem-se perdidas, porque já não estão a trabalhar, mas também ainda não têm assim tanta coisa para tratar relativamente ao nascimento da criança. Sentem-se receosas, porque fazem contas à vida e começam a perceber as despesas todas que vão ter. Sentem-se pressionadas, porque os pais e os amigos estão sempre a dar palpites sobre o que elas devem fazer e não fazer.

Na verdade, tudo isto gera, muitas vezes, depressões pré ou pós-parto. Há casos, até, de depressões pré e pós parto, que podem durar por um período indeterminado. Mas como qualquer doença, também isto se cura. O problema maior é mesmo que o doente reconheça que está doente, e esteja disposto a tratar-se, o que nem sempre acontece.
Grande parte dos conflitos entre os casais que têm ou vão ter o primeiro filho advém de algumas destas fragilidades e mutações por que o casal passa.

O papel deles

Ao homem cabe o papel de tentar, de alguma forma, tranquilizar a mulher, ajudar em tudo o que lhe for possível, não deixar que ela entre em pânico, continuar a dar-lhe provas de amor e, também ele, começar a preparar-se para a tal nova realidade que aí vem e que lhe irá, seguramente, alterar rotinas, prioridades, sonos, programas.
Sinceramente, acho que só é possível superar todas as dificuldades relativas ao nascimento de uma criança se a relação entre o casal for muito forte, cúmplice e assente em amor, amizade e companheirismo. Se uma qualquer destas coisas começa a faltar, o mais provável é a torre vir abaixo. Se o amor já é fraco, ou ainda não é suficientemente forte, a vontade de parte a parte em superar tudo e muito menor. Se não há companheirismo, perde-se o respeito, e sem respeito vai-se o amor, e sem amor vai-se tudo.
Este é um jogo de equilíbrios delicado que assusta um bocadinho, mas que todos devem estar cientes de que existe. Mas se decidimos que vamos a jogo temos, os dois, de conhecer as regras.

Os pais que se anulam
Outro dos maiores problemas após o nascimento da criança tem a ver com o facto de muitos pais deixarem-se anular por completo. Deixam de fazer tudo, mas mesmo tudo, por causa da criança. Não há cinemas, não há férias, não há jantares de amigos, não há saídas a dois, porque primeiro está o bebé. Naturalmente que quem nunca teve um filho fica assustado com essa tal realidade nova, não sabe o que fazer, mas por isso disse antes que é preciso conhecer as regras de jogo, e as regras de jogo dizem que é preciso ter bom senso, é preciso ser adulto, é preciso perceber que sem momentos de felicidade a dois (ou até sozinhos - porque também precisamos de tempo para nós, homens e mulheres) jamais haverá momentos de felicidade a três, porque a união quebra-se, porque ninguém é feliz, porque deixou de haver um amor entre três pessoas, e passou apenas a haver uma mãe que ama um filho, um pai que ama um filho, e não há um pai que ama uma mãe, apenas um homem e uma mulher que tratam de uma criança.

O sexo
Pode parece estúpido ou até uma falta de sensibilidade falar de sexo nesta altura, mas a sexualidade também desempenha um papel fundamental nesta fase da vida de um casal que vai ter ou teve recentemente um filho (“lá estão os homens a pensar no sexo, e sempre a pôr o sexo à frente de tudo”, vão pensar algumas leitoras). Quando falo de sexualidade falo sobretudo de intimidade. A baixa auto-estima das mulheres leva a que muitas vezes se afastem dos companheiros, que recusem todos os contactos ou aproximações mais íntimas. As hormonas também têm aqui um papel importante, é evidente, e os níveis de desejo podem baixar significativamente. Mas uma coisa é não ter desejo, outra é afastar-se sexualmente do companheiro durante três, seis, nove meses, ou por vezes durante mais tempo. Não chega dizerem-nos “Olha, amanha-te, porque agora tive um filho teu e não me apetece”. Da mesma forma que os homens têm de perceber que nesse capítulo as coisas são diferentes, as mulheres devem entender que não podem, pura e simplesmente, deixar de existir enquanto mulheres e passarem a ser exclusivamente mães. Muitos amigos meus queixam-se disso mesmo: “Agora já não tenho mulher, tenho uma mamã lá em casa”. E isso é outro dos factores que levam ao afastamento entre os casais. O sexo é uma forma de aproximação entre os casais em qualquer altura, é um momento de intimidade e amor. E quando isso se vai, lá está, tudo o resto pode ruir.

Um filho muda tudo.
Mas pode ser a melhor coisa do mundo para um casal.
É só ser crescidinho, ter bom senso e muito amor para dar. Ao filho e ao parceiro ou à parceira.

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