19.9.11

Metamorfose


Lá dentro,
muito dentro de ti mesmo,
- nem sabes -
há muitos, muitos homens,
tantos,
talvez os homens todos,
num espaço em que não cabes,
ao abandono, a esmo
amarrados, mudos,
como lobos,
ou parados, castos
como santos,
espreitando os dias que hão-de vir,
farejando os rastos,
disfarçando enganos,
à espera de subir...
E numa hora certa, 
quando o contexto, a sorte,
a ocasião, a dor
algum deles desperta,
hás-de sentir rasgar o ódio
ou desenhar o amor,
e verás afinal,
que ser desconhecido,
existe em ti escondido,
atrás do baço, incolor,
homem formal,
adormecido.



[Tenho este poema comigo desde os 15 anos, escrito a computador e impresso numa folha daquelas de rolo, quando as impressoras ainda faziam um barulho de acordar o prédio todo. Sei que o usei para um trabalho do liceu e lembro-me perfeitamente da imagem que escolhi para o acompanhar. Guardo esse poema dentro do mesmo livro, que guardo desde os 15 anos. Nunca soube quem o escreveu. Não o identifiquei na altura, provavelmente porque não o sabia, mas adorei-o. Continuo a adorar este poema e de vez em quando lembro-me dele. Hoje lembrei-me. E lá estava ele, dobrado, dentro do mesmo livro, à minha espera.]

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