Há 10 minutos atrás apaguei o cigarro da tristeza. Fumei-o compenetradamente, pausadamente e com pesar. Hoje acho que perdi uma amiga. Ainda não decidi. Porque as amizades, tal como o amor, podem chegar ao momento em que já não crescem connosco. Hoje fumei um cigarro tão profundamente desiludido que dói a decisão do que fica para trás, do ganhar ou do perder. Conta que não devia existir, não devia sequer ser questionada, porque devia dar sempre resultado.
Por isso, hoje, acho que vou perder uma amiga de longa data, talvez uma das amizades mais antigas que mantenho. As desilusões acumulam-se, uma atrás da outra, ganham tamanho e ganham peso cá dentro e magoam e decepcionam.
Ao deixar ir uma amiga, estou a deixar ir muito de mim também, mas esta indiferença, este sentimento de ser ignorada e preterida já não dá para aguentar, nem para justificar, nem para desculpar. E estou sentada a escrever isto e a ver uma fotografia nossa de um fim-de-ano, dos muitos que passámos juntas (aquele em que fiquei a dormir em tua casa). Mas às vezes as coisas têm de acabar, para podermos dar espaço a outras pessoas para entrar.
Não foi por falta de aviso, mas tal como no amor, não se força, tem-se.
E hoje apaguei o cigarro da tristeza desta amizade dentro de mim.
Nem chorei, mas a minha alma soluça.